Inventário de inesquecíveis vivências

21/01/2019 11:25

Há coisas que presenciamos ou vivemos que, de tão impactantes em sua beleza, enraízam na memória, se tornando parte de quem somos. Seguem alguns desses momentos inesquecíveis que vi ou vivi. Sem qualquer ordem de hierarquia ou lógica temática e, muito menos, pretensão de completude.

O sorriso do meu amor sob o pôr do sol do Arpoador. O Pr. Billy Graham pregando no Maracanã. A Banda Marcial Wolney Aguiar no seu auge. A descoberta aos dez anos, na estante do meu pai, do Castro Alves de Espumas Flutuantes. O Grupo Corpo dançando Parabelo no Municipal. Ir à queima de fogos em Copa e desistir por causa da multidão, para ficar na Ipanema deserta e encantar-se com os fogos do Vidigal. A primeira vez no teatro, aos 12 anos, na concha do Museu Imperial para ver Eliel Menezes em “Piquenique no Front”. A segunda vez no teatro, na grandiosa montagem de "Veranistas", de Gorky, com Susana Faini e Sérgio Brito. A vitória de Mequinho sobre Smyslov no Petropolitano, no Interzonal de Xadrez de 1973, do qual foi campeão. A primeira manifestação de que participei, pela anistia, ainda garoto tendo que correr e me esconder no buraco do que se tornaria o metrô da Cinelândia, quando veio a tropa de choque. O vinil que veio de brinde na revista Mais, com Juca de Oliveira recitando Drummond.

Um backflip perfeito do Gabriel Medina. A última cena da novela O Casarão. A primeira vez que ouvi o Salmo 150, de Ernani Aguiar. Uma bicicleta do Pelé. A parábola exata de uma indefensável falta cobrada pelo Zico. Um gol de cabeça do Dario Maravilha na minha primeira ida ao Maracanã, com o Flamengo ganhando de 8×0 do Bangu. O gol do Jairzinho, dando um chapéu no goleiro da Checoslováquia, em 1970. Ayrton Senna ultrapassando debaixo de chuva no GP da Europa. Um passe de calcanhar do Sócrates. O bailado do Muhamad Ali num ringue de boxe. O soco de uma polegada do Bruce Lee. O primeiro livro que comprei, aos 12 anos: “Reunião” de Drummond.

Sessão dos "Dez Mandamentos", sentado no chão do Cine Petrópolis lotado, com Charlton Heston poderoso como Moisés. O Maestro Júnior jogando futebol de areia no Leblon. A atuação de Sheila Castro salvando 06 match points seguidos contra a Rússia na Olimpíada. A emocionante fala de Sobral Pinto no Comício das Diretas-Já da Candelária. Esta escalação que é um poema: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico – o time campeão mundial do Flamengo. Gilberto Gil cantando “A Linha e o Linho” no Canecão. Maria Alcina cantando “Fio Maravilha” no Festival do Maracanãzinho. Olívia Teixeira Grillo Marci recitando o meu “Poema para um Presidiário”. “Luzes da Cidade”, do Chaplin. “A Flauta Mágica”, na visão de Ingmar Bergman. Eu, verborrágico, descobrindo as sucintas maravilhas de João Cabral de Mello Neto. O beijo que a poeta Adélia Prado me enviou pelo correio. A cartinha que Manoel de Barros teve a generosidade de me escrever. Os livros que Ledo Ivo me enviou.

Meu poema, publicado em meus 16 anos, numa coletânea do Mestre Paulo César Santos. Meu primeiro sermão, na Igreja Batista de Pedro do Rio, aos 14 anos. O samba “Os Sertões”, da Em Cima da Hora. Beijos da namorada ao som dos sinos da Catedral. Um concerto do violoncelista Antonio Meneses, na Sala Cecília Meireles. O DVD do Royal Opera House com Maria Ewing fazendo inesquecível Carmem, na ópera de Bizet.

Há muito mais, a me explicar e traduzir. Mas aqui não cabe.

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