Javier Milei fala em ‘acabar com o kirchnerismo e a casta política parasitária’ após vitória

14/08/2023 11:16
Por Redação / Estadão

O ultradireitista Javier Milei, grande vencedor das PASO, as Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, que são um termômetro para a disputa presidencial da Argentina. , comemorou efusivamente o resultado surpeendente neste domingo, 13. O economista, que surgiu com uma terceira força política, virou o jogo e saiu como favorito para a votação presidencial em outubro.

Uma hora após saírem os primeiros resultados das Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso), por volta de 23h30 (hora local), o candidato do partido Libertad Avanza subiu em um palco e leu seu discurso, segundo relata o jornal La Nación.

“Essa alternativa competitiva não só acabará com o kirchnerismo, mas acabará com a casta parasitária, esporádica e inútil deste país”, atacou logo de início. E completou: “Estamos diante do fim do modelo de castas, baseado naquela atrocidade que diz que onde há necessidade, há um direito, mas esquece-se que esse direito tem que ser pago”, destacou.

“Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina, e tudo isso se manifesta em um conjunto de conquistas e métricas sobre a eleição de hoje”, disse Milei. Em tom efusivo, acrescentou: “Não só fomos a força mais eleita em termos individuais, como hoje somos a força mais votada. Porque nós somos a verdadeira oposição!”, afirmou, lembrando que “17 dos 24 distritos foram pintados de roxo”.

Por fim, Milei convidou os “bons argentinos” a se juntarem à “revolução liberal”: “Não me venham com isso não pode, o problema é que a solução está nas mãos do problema. Está nas mãos dos políticos. Se eles não quiserem mudar, vamos tirá-los de vez!”, ameaçou.

Votação expressiva

Com 97,42% dos votos apurados, Javier Milei tem 30,04% dos votos. À frente da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio (28,27%) e da coalizão da esquerda que governa o país Unión por la Pátria (27,27%).

As prévias definem as chapas que vão concorrer na eleição presidencial de outubro. Milei concorre sozinho dentro da sua coalizão, mas tanto o governismo como a oposição tem mais de um candidato. Além de liderar o voto por chapas, Milei foi o candidato mais votado, com 7 milhões de votos.

Em segundo, com 5 milhões de votos, está Sérgio Massa, o todo-poderoso ministro da Economia da Argentina, apoiado pelo presidente Alberto Fernández e pela vice, Cristina Kirchner. Apesar do segundo lugar de Massa, a coalizão governista ficou em terceiro lugar no voto por chapas, no pior resultado do peronismo em 12 anos de eleições primárias. Desde que o pleito foi implementado, em 2011, as alianças peronistas sempre acumularam as maiores porcentagens de votos.

Patricia Bullrich, candidata da centro-direita e esperança dos conservadores tradicionais argentinos para derrotar a esquerda, foi a terceira candidata mais votada, com 4 milhões de votos. Na disputa pela vaga interna do Juntos por el Cambio, a candidata linha-dura garante uma vaga no primeiro turno de outubro, registrando 17% contra 10,7% de Horacio Larreta, prefeito de Buenos Aires.

A votação expressiva de Milei foi antecipada pelas próprias campanhas enquanto a apuração avançava e pegou a Argentina de surpresa. Nas horas de tensão até que os primeiros resultados fossem anunciados, o governo chegou a prever que o candidato da extrema direita poderia ter até 30% dos votos, disse uma fonte da Casa Rosada à emissora local Todo Notícias.

Os resultados apontam que Javier Milei deixou para trás a direita mais moderada da Argentina representada pelo movimento Juntos por el Cambio, que era apontado pelas pesquisas como favorito. Na disputa interna da coalizão, Patricia Bullrich venceu o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e será a candidata nas eleições de outubro.

Um desconhecido na política argentina até conquistar uma cadeira como deputado em 2021, o libertário Javier Milei ganhou impulso na corrida presidencial no início deste ano. Quando saiu de pontuações ínfimas nas pesquisas de intenção de votos para próximo do primeiro lugar

O presidente da coalizão Liberdade Avança capturou uma atenção considerável do eleitorado argentino quando se colocou como “diferente de tudo que está aí”. Com seu lema de ser “contra a casta política”, Milei enfatiza que não faz parte nem da política peronista nem da oposição macrista. O discurso agradou quem está cansado da enorme crise econômica que passa o país e não foi resolvida no últimos governos de Alberto Fernández e seu antecessor Mauricio Macri.

À insatisfação popular se somou as brigas internas dentro das coalizões de governo e oposição pelas candidaturas presidenciais. A chapa peronista União pela Pátria (antiga Frente de Todos) travou batalhas até os últimos dias para definir um candidato. Enquanto a oposição do Juntos pela Mudança decidiu sair com dois nomes de peso para a disputa, mas não sem antes protagonizar trocas de acusações entre eles e disputas até mesmo pela prefeitura de Buenos Aires.

Além da definir os rachas partidários quando eles existem, as primárias são um termômetro da política argentina. Em 2019, o peronista Alberto Fernández saiu das prévias com 15 pontos de vantagem sobre o então presidente Mauricio Macri. Naquele ano, Fernández confirmou o favoritismo e venceu a eleição junto com Cristina Kirchner, vice-presidente.

Por isso, os resultados das primárias dessa vez são uma má notícia para os peronistas. No governo, a esquerda teve a imagem abalada pela grave crise econômica que atinge o país onde a inflação anual é de 115%. Com as compras no mercado cada dia mais caros e os salários corroídos, cresce o inconformismo entre os argentinos.

Esse sentimento permitiu a ascensão do ultradireitista Javier Milei. O libertário era desconhecido na política argentina até 2021, quando foi eleito deputado. Com ideias radicais, como acabar com o Banco Central e dolarizar a economia, o economista ganhou atenção dos eleitores e despontava como uma terceira força da política argentina. Recentemente, as pesquisas apontaram que o ultradireitista estaria perdendo força. O que não se concretizou nas primárias.

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