Joio do trigo

28/06/2018 12:43

O papel da imprensa, em todos os tempos, tornou-se indiscutível, a ela atribuindo-se a principal preponderância no sentido de fortalecer as instituições, em qualquer esfera de poder, tanto no Brasil quanto no Exterior. Esse papel de relevância preparou o terreno, inclusive para revoluções sociais e culturais, modificando por completo os panoramas nacional e internacional, e disso não temos dúvidas. O jornalismo investigativo é essencial numa democracia consolidada, pois é por ele que transitam as ideologias e seus ideários, sintetizando a vontade popular, principalmente. Karl Marx e o genial Joseph Pulitzer, esse de origem alemã e fundador do jornal norte-americano Word, sintetizaram ideias que demonstram esse papel, de forma indubitável e serena, dizendo o primeiro que a imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, enquanto o segundo diz que com o tempo uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma. Num primeiro momento, parecem pensamentos díspares, antagônicos e distintos, mas que, numa leitura mais pormenorizada, identificam – se entre si. Diferente deles, Adlai Stevenson fraseia que a imprensa separa o joio do trigo. E publica o joio.

Confesso que a pequena introdução acima preambula a verdadeira intenção de quem a escreve, nesse exato momento tomado de um espanto indescritível ao ler na coluna Opinião, do jornal O Dia de sábado, sob o título Marielle, 101 dias, o artigo assinado por João Batista Damasceno, nominado como doutor em Ciências Políticas e Juiz de Direito, que busca desmoralizar o papel dos que militam na área de segurança pública deste estado. Nele, o articulista diz que o caso não será solucionado ( a morte da vereadora) pois, com o Rio sob intervenção federal, foi um recado dos que sabem fazer o malfeito, para mostrar quem manda no Estado. Diz que o interventor é de fora e vê a realidade do Rio pelo helicóptero aparelhado com metralhadora, não sabe o que o aparato paramilitar faz, sob o nome de milícia, e sequer deve compreender as relações sociais e econômicas que tais grupos estabelecem. E encerra seu artigo, dizendo: “no presente momento, nem amorte do menino Marcus Vinícius, na Maré, que, uniformizado, rumava para a escola, sensibilizou os que têm o poder de fazer cessar a execução de pretos, pobres e favelados pelas forças do estado”.

Como delegado de Polícia deste Estado, respeito todos os pontos de vista, sempre que exponham opiniões de cunho impessoal, pluralista e variado, mas repilo com veemência aqueles de natureza sectária, singular, unidirecional e maliciosa. As Polícias deste Estado não podem ser bode expiatório de ninguém. Merecem respeito. Quando agem, o fazem em prol da sociedade, pois sua defesa é fundamental, sob quaisquer aspectos.

A persistência em querer apresentar as forças de segurança como as principais vilãs da intranquilidade social instalada há tantos anos pode demonstrar um desconhecimento que beira à ideologia do apartheid. A extinção dos comandos-caipira, do sequestro quase que diário, da disseminação da desigualdade de tratamento entre as pessoas – para citar algumas ações pontuais – prova que as Polícias não são vaquinhas de presépio e sabem agir. Erra o articulista João Batista quando imputa ao general-secretário um desconhecimento total do Rio de Janeiro e sua periferia, atribuindo-lhe o papel de comandante apenas de fachada, pois sabemos todos que ele conhece profundamente o terreno minado em que está pisando. A certeza de que a morte da vereadora será solucionada é cristalina. A convicção da hipótese tem base robusta, doutor. O que não podemos é ficar inertes ao achincalhe, à ofensa sem fundamento, à persistente campanha difamatória a uma polícia que, – computando-se todas as mortes no Rio de Janeiro – teve mais vidas ceifadas que a própria e comprovada bandidagem.

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