Jovens apostam em negócios inovadores em Petrópolis
Gaia Vani, Fernanda Hudson, Rafael Santana, Marcelo Moraes. Quatro petropolitanos e uma característica em comum: criatividade. Cada um desses jovens, que têm entre 22 e 28 anos atuam em uma área diferente e comprovam o que os especialistas dizem da Geração Y – nascidos entre 1977 e 2000: essa é a geração que dá sentido ao conceito de economia criativa, ou seja, pessoas com maior dinamismo e que buscam ser protagonistas da própria história, inclusive no mercado de trabalho.
Gaia e Fernanda, ou Nanda, são amigas, ambas têm 24 anos e são publicitárias. Para contar as aventuras que viviam nas viagens, a dupla resolveu montar um blog, o Mala de Aventuras. No início era um portal, apenas para compartilhar dicas com amigos e família. Na época, a Gaia morava na Austrália e gostou da experiência de poder dividir as experiências que vivia naquele país. O que era apenas um hobby, acabou se profissionalizando. Atualmente, elas tiveram que aderir ao Micro Empreendedor Individual (MEI) e acabaram também investindo na própria agência de Marketing Digital.
Gaia contou que encara o blog como um trabalho, com planejamento mensal de produção de conteúdo e de tarefas a serem cumpridas. “É difícil completar 100% delas, até por conta da agência, porque temos que dividir nosso tempo entre ambos os negócios”, explicou. Mas ela disse que vê o Mala de Aventuras como o pontapé inicial para a criação da própria agência. Até mesmo porque as duas abriram mão dos trabalhos tradicionais no Rio, voltaram para Petrópolis e estão apostando nas próprias ideias. “Isso nos proporcionou principalmente flexibilidade, o que é essencial. Outra coisa que mudou na rotina, foi que nossas viagens foram ficando cada vez mais profissionais em termos de cobertura. Nos preocupamos em produzir conteúdo de qualidade, com fotos e vídeos, cobertura via snapchat e dicas gerais para que todos possam planejar suas viagens baseando-se nos nossos relatos”, afirmou.
Segundo a publicitária, o trabalho parece simples, mas não é. “Sempre tem mensagens e e-mails com dúvidas dos nossos leitores para responder e precisamos responder as redes sociais atualizadas diariamente. Agora lançamos também um canal no Youtube”, comentou. Ela disse ainda que já tem retorno financeiro, mas ainda não suficiente para que seja a única fonte de renda. O complemento vem com a agência.
Já Rafael Santana, tem 28 anos, é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mora em Corrêas. Desde o ano passado, resolveu investir em um negócio diferenciado e pioneiro na cidade: fabricação de plataformas de equilíbrio – objetos feitos com madeira que funcionam como simulador de uma prancha de surf ou de skate. O petropolitano, conhecido como Tajan, também aderiu ao MEI. A matéria-prima utilizada na produção é madeira e cano de PVC e o trabalho é sob encomenda. Rafael contou que, por mês, produz de 4 a 5 plataformas. Cada uma leva dois a três dias, porque são feitos à mão. A atividade esportiva é completamente lúdica, porque auxilia, segundo ele, no desenvolvimento do equilíbrio, da força e da concentração.
Enquanto Marcelo Moraes, de 22 anos, tem uma marca de roupas, pioneira no país no estilo sem gênero e que já conquistou espaço até na publicação Elle Brasil, um dos principais veículos do setor de moda. Ele contou que a Nickname surgiu desde que era criança. “Sempre gostei de desenhar e já imaginava a minha marca com esse nome desde uns 7 anos. No início, meu primo Rafael, que era quase um irmão, me ajudava, mas aos 18 anos ele morreu de leucemia e fiquei um pouco desanimado”, lembrou. Mas, quando conheceu a namorada Lorena Lélis, que na época era estudante de moda, a ideia foi retomada. Foi ela que trouxe a ideia do sem gênero e é quem desenha as roupas. O Marcelo ficou focado nas áreas burocráticas, administrativas e de divulgação.
Atualmente, o casal está produzindo uma coleção, que será lançada no fim do ano em São Paulo. A dupla também vai comercializar as peças por meio do e-commerce. “Nossa proposta é de uma marca que possa ser usada por qualquer pessoa, independente do gênero. Por isso, produzimos vestidos, saias que servem tanto para homens, quanto para mulheres”, disse ele, que também é um Microempreendedor.
Especialista da Fundação Getúlio Vargas explica características da geração Y
A busca pelo novo, pelos desafios e pelos negócios próprios são características da Geração Y, conforme explicou a coordenadora dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas, Ana Ligia Finamor. Para ela, o comportamento desse grupo de pessoas que, atualmente, tem entre 40 e 16 anos, se caracteriza pelo imediatismo, mas também pelo perfil inovador. “São pessoas mais tecnológicas, impacientes, com dificuldade de aceitar hierarquia e que possuem um senso crítico mais aguçado. Elas buscam empreender porque querem ser protagonistas da história. Essa geração não gosta de ter horário fixo e busca liberdade e flexibilidade”, disse. Apesar desse perfil, ela afirmou que podem render mais dessa maneira porque são pessoas comprometidas. Além disso, a especialista destacou que é uma geração mais aberta ao risco, que muitas vezes abre mão do tradicional em busca de um negócio inovador.
A geração Y é mais horizontal, tem mais agilidade e busca, entre outras coisas, autonomia. “São pessoas que querem colocar a mão na massa. Elas têm uma ânsia grande de colocar as ideias no mercado, buscam projetos paralelos e vão testando os negócios. Tudo isso está no DNA delas”, disse.
Geração X é mais paciente e a Z mais conectada
Todas as características citadas por Ana Ligia são distintas da geração X, nascidos entre 1965 e 1977. “Existe uma diferença de comportamento porque a geração anterior pensa mil vezes antes de sair de um emprego. São mais pacientes, aceitam mais a hierarquia e são mais motivadas pelo retorno financeiro”, explicou Ana Ligia.
Em seguida, aparece a geração Z, nascidos a partir de 2000 que ainda não estão no mercado e que também devem trazer novidades nos próximos anos. Estes são hiperconectados e mais tecnológicos que a geração Y. Para Ana Ligia, esse período de transição deve trazer ainda novas áreas de atuação, com mais profissões nas áreas de tecnologia e de economia criativa. “As profissões mais estáticas devem ficar obsoletas ou até mesmo serem substituídas pela tecnologia”, concluiu.