Juiz que investiga casos de corrupção na Câmara fala em delação premiada

14/03/2017 12:00

Em entrevista concedida à imprensa, o juiz da 2ª Vara Criminal de Petrópolis, Afonso Botelho, falou sobre a importância da deleção premiada para a investigação dos crimes de corrupção. Para o juiz, esses depoimentos ajudam a desmantelar o crime organizado, uma vez que os delatores contam em detalhes o funcionamento dos esquemas e quais são os envolvidos. 

“Imagina uma pessoa, sozinha, no meio de um oceano repleto de tubarões e de repente aparece um helicóptero e dele desce uma escada. Essa escada é a deleção premiada”, disse o juiz. “As delações são importantes e fazem parte das legislações de alguns dos países mais avançados do mundo, como Itália, Estados Unidos e Inglaterra. Todas essas nações, incluindo o Brasil, dispõem de mecanismos de delação premiada”, ressaltou.

Afonso Botelho lembra a primeira deleção premiada da operação Lava-Jato, concedida pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Os depoimentos dele levaram a uma série de prisões e a a investigação de um enorme esquema de corrupção. “As delações são repletas de elementos e quanto mais informações e provas o delator trouxer para as investigações mais ele será beneficiado. Foi o caso de Paulo Roberto Costa. Ele foi beneficiado com o acordo de deleção premiada, se não fosse isso, ele ainda estaria preso por todos os crimes que assumiu”, lembrou o juiz. Atualmente, o ex-diretor da Petrobrás cumpra pena domiciliar.

O juiz da 2ª Vara Criminal explica que os alvos das investigações não podem assinar esses acordos, apenas os alvos secundários. “As revelações de quem já está preso ou foi denunciado tem peso menor. Já aqueles que se apresentam espontaneamente podem até ficar isentos de pena. O importante é que quanto mais elementos o delator trouxer para a investigação, mais ele será beneficiado. Para as investigações, é importante que as pessoas denunciem, que assinem as delações premiadas”, frisou.

Em Petrópolis, acordos de delação premiada estão sendo assinados no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPERJ) para as investigações de corrupção na Câmara Municipal. Dois assessores do ex-vereador Osvaldo do Vale, o Vadinho (presos na última terça-feira, dia sete), estão prestando os depoimentos que vão auxiliar os investigadores a desmantelar o esquema e prender os envolvidos nos crimes. 

Vadinho e quatro assessores – Marcos Antônio Felix da Silva (Marquinho), Angela Regina Borsato dos Santos, Jaqueline Batista de Jesus e Luiz Otávio da Costa Penna – são suspeitos de crimes de peculato, concussão e associação criminosa. Se somados todos os crimes, a pena pode chegar a 24 anos de detenção. Além disso, Vadinho pode ter que devolver aos cofres públicos o dinheiro que foi desviado. 

O ex-vereador e dois dos seus assessores estão em uma penitenciária em Benfica, no Rio de Janeiro. As duas assessoras estão em Bangu. Vadinho é suspeito de obrigar os assessores a devolver parte do salário que recebiam. Ele também é acusado de nomear, em seu gabinete, funcionários fantasmas. “Quando desviam dinheiro público destinado a saúde, a educação, a obras públicas estão cometendo genocídio. Desvio de dinheiro público é revoltante”, concluiu o juiz. 

As investigações do esquema de corrupção na Câmara Municipal começaram em setembro de 2016, quando ex-assessoras de Vadinho denunciaram os crimes no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Além dos depoimentos, elas também apresentaram provas, como gravações e comprovantes de extratos bancários.

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