Juros: noticiário local traz alívio à tarde e ponta curta encerra estável

25/abr 18:06
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros reduziram o ritmo de alta na sessão vespertina e os contratos de curto e médio prazos acabaram fechando estáveis, ainda que os rendimentos dos Treasuries se mantivessem bastante pressionados em reação ao dado de inflação nos Estados Unidos divulgado ainda pela manhã. O alívio foi atribuído à melhora na percepção fiscal a partir de declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicando pouca disposição em dar andamento à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio, que compõe boa parte da chamada “pauta-bomba” do Congresso.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,335%, de 10,341% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 marcava 10,60%, de 10,61% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027, que pela manhã voltava a romper 11%, desacelerava a 10,93% (10,92% ontem). O DI para janeiro de 2029 subia de 11,38% para 11,42%, mas longe da máxima de 11,54%.

Após o forte estresse nos mercados globais na primeira etapa, instalado pela reação negativa ao índice de preço dos gastos com consumo (PCE, em inglês) nos Estados Unidos no primeiro trimestre, o mercado encontrou espaço à tarde para buscar um pouco dos prêmios de risco, com o noticiário local.

O fôlego de alta esvaeceu após Lira reforçar que a PEC não deve prosperar na Casa. “Não sei nem se vai andar, depois de tanta repercussão no Senado”, afirmou, à GloboNews. Disse ainda que não causou nem pretende causar “pautas-bomba” no Congresso e relembrou que não foi a Câmara que pautou o texto.

A PEC pode representar um impacto fiscal de R$ 40 bilhões, segundo a Fazenda. Mas o líder do governo no senado, Jaques Wagner (PT-BA), alertou para o possível efeito cascata que o projeto pode gerar – ao justificar demandas semelhantes em outras categorias profissionais – e na sua “despesa incalculável”.

Houve ainda uma nova rodada de alívio na curva à tarde, na esteira da informação apurada pela repórter Célia Froufe de que, após a decisão sobre o pagamento de 50% dos dividendos da Petrobras no primeiro semestre, o governo vai pagar a outra metade ao longo do segundo semestre, com aval do presidente Lula, segundo fontes. “É um sinal de que a ala econômica prevaleceu à ala política”, avalia um economista, referindo-se à pressão para que a empresa usasse os recursos para investimentos. O governo é o maior acionista da companhia e os recursos vão reforçar o caixa da União.

Enquanto isso, o quadro externo continuou adverso, com a taxa da T-Note de dez anos se mantendo acima dos 4,70%, nas máximas desde novembro. Os dados do PIB do Estados Unidos no primeiro trimestre acabaram por ampliar o viés conservador das apostas para a política monetária do Federal Reserve, e o mercado já vê 20% de chance de os juros não caírem este ano. A expectativa de corte em setembro, porém, segue como a mais provável.

Apesar do crescimento da economia de 1,6%, abaixo do piso das estimativas (1,9%) e desacelerando fortemente ante os 3,4% do trimestre anterior, a inflação medida pelo índice PCE ganhou fôlego, atingindo 3,4%, ante 1,8% no quarto trimestre. O PCE é a medida favorita de inflação do Fed.

O head de renda fixa da Manchester Investimentos, Rafael Sueishi, afirma que a possibilidade de alta de juros nos EUA ainda não está precificada nos ativos, mas pode aparecer a depender dos próximos indicadores. “Se o PCE amanhã surpreender, poderá dar força para esta narrativa”, diz, a respeito do dado de inflação de março a ser divulgado nesta sexta. Ele lembra que os elevados níveis da curva americana têm impacto no fluxo de recursos para o País, sendo fator de pressão sobre o câmbio, o que pode afetar o cenário inflacionário, atualmente mais benigno. “Além disso, dificulta a rolagem da dívida pelo Tesouro”, complementa.

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