Juros: taxas desaceleram alta e terminam estáveis em dia de piora na aversão ao risco

12/abr 18:06
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros encerraram a sexta-feira perto da estabilidade, após operarem em alta durante boa parte do dia. A curva teve ganho de inclinação tanto em relação a ontem quanto em comparação à última sexta-feira, refletindo a reprecificação dos ativos quanto à política monetária nos Estados Unidos, o aumento do estresse geopolítico e, internamente, a piora na percepção de risco fiscal. Na sessão de hoje, marcada pela escalada das tensões entre Israel e Irã, o movimento das taxas, que haviam subido muito nos últimos dias, foi visto como bem comportado.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,045%, de 10,060% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 10,22% (de 10,21%). O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,53%, estável, e o de janeiro de 2029, taxa de 11,08%, de 11,07%.

As taxas estiveram em alta firme pela manhã, influenciadas pela desvalorização do câmbio, apesar da queda no rendimento dos Treasuries, por sua vez respondendo à chamada busca pela segurança em meio ao aumento do risco geopolítico, que também pressionava os preços do petróleo acima de 2%. O dólar à vista bateu nas máximas à casa de R$ 5,14, enquanto o retorno da T-Note de dez anos voltava a rodar abaixo de 4,50%. Os juros dos DIs de médio e longo prazos chegaram a subir quase 10 pontos nas máximas da manhã.

No começo da tarde, porém, houve uma descompressão e o avanço das taxas perdeu impulso, na medida em que o dólar se afastou dos picos do dia e o petróleo também desacelerou os ganhos, enquanto o yield da T-Note de dez anos voltou a rodar nos 4,50%.

Para o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, as taxas reagiram hoje de forma moderada ao aumento da aversão ao risco externo porque já vinham avançando muito nas sessões anteriores, mas caso se concretizem as ameaças do Irã haverá impacto sobre os ativos, especialmente a depender do que ocorrer com o petróleo.

“O efeito imediato seria mais sobre os ativos do que sobre a política monetária. Para entrar na função-reação dos bancos centrais, esse evento teria primeiro de chegar aos núcleos da inflação, que é o que os BCs olham, o que pode ocorrer em caso de um conflito mais perene”, explicou. Assim, o Brasil, onde o Banco Central mira a inflação cheia para a meta, pode sofrer mais.

As taxas curtas subiram menos do que as longas, considerando que a precificação de Selic terminal a 10% já é bastante alta, diz o estrategista, que trabalha com taxa terminal no nível de 9,25%, que será atingido com mais dois cortes de 50 pontos (maio e junho) e outros dois de 25 pontos (julho e setembro).

A semana termina com avanço em torno de 20 pontos-base na ponta longa e de cerca de 10 pontos nos vencimentos de curto prazo, ante os ajustes da última sexta-feira. O steppening da curva refletiu a piora na percepção sobre os juros nos Estados Unidos detonada pelo CPI, não só pela percepção de que o Federal Reserve pode adiar o primeiro corte para o segundo semestre como também pelo crescente aumento da chance de que seja apenas uma queda este ano.

O risco fiscal também tem sua parcela de culpa na esticada dos longos, após a aprovação de uma alteração no arcabouço fiscal que permite ao governo antecipar cerca de R$ 15 bilhões em despesas e do aumento da pressão por reajustes do funcionalismo, na medida em que crescem as paralisações de servidores dentro do governo. Outro revés para as contas públicas foi a retirada do regime de urgência do projeto de lei que prevê a reoneração gradual da folha de pagamento de 17 setores da economia.

Para piorar, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, entrou em rota de colisão com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o que é visto como preocupante para o futuro da pauta fiscal no Legislativo.

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