Juros: taxas sobem às máximas em mais de 1 ano com risco fiscal e alta do dólar

28/jun 18:13
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros fecharam a semana, o mês e o semestre nas máximas registradas há mais de um ano. Novos ruídos vindos de Brasília elevaram a crise de confiança no ajuste fiscal visto como necessário para evitar uma alta da Selic, somados a dados ruins do setor público e robustos do mercado de trabalho, o que aumentou a postura defensiva nos mercados de juros e de câmbio nesta sexta-feira. O exterior também acabou contribuindo para a pressão sobre a curva, com a inversão do sinal de queda para alta dos rendimentos dos Treasuries.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,770%, de 10,622% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 11,30% para 11,59%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,97%, de 11,71% ontem, e a do DI para janeiro de 2029, taxa de 12,35%, de 12,11% ontem.

Na sessão de hoje, o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, afirma que temores de natureza estrutural e conjuntural pressionaram a curva. No primeiro caso, cita os dados do setor público consolidado de maio. Mais até do que o déficit de R$ 63,895 bilhões maior do que a mediana das estimativas (déficit de R$ 59,00 bilhões), o que mais chamou a atenção foi o comportamento da dívida em relação ao PIB. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) de 76,8% atingiu o nível mais alto desde fevereiro de 2022 e a dívida líquida, de 62,2%, chegou ao pico desde setembro de 2002, 62,4%. “A dívida subiu mesmo com os dados apontando melhora da atividade. A ponta longa do DI não vai melhorar enquanto não houver medidas concretas do lado fiscal”, afirma.

Os indicadores da Pnad Contínua exerceram influência nos demais trechos da curva, ao reforçarem o alerta trazido ontem pelo Relatório de Inflação (RI) e as entrevistas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo. A taxa de desemprego de 7,1% veio no piso das estimativas no trimestre encerrado em maio e algumas instituições calculam que, ajustada sazonalmente, a taxa já furou 7%, caso da Kínitro, cujo número é de 6,9%. A massa salarial, puxada pelo aumento da formalidade, atingiu recorde de R$ 317,8 bilhões. “Quando se encaixa essa situação nas sinalizações do BC ontem para o hiato do produto, é de se imaginar que esse hiato continuará se fechando”, diz Pizzani, da CM.

Com o risco de um fechamento maior do hiato e de o câmbio resistir nos níveis atuais, o mercado segue embutindo na curva prêmios de risco, que acabam resultando num aumento da precificação de Selic nos DIs. Para o fim de 2024, as taxas já apontam Selic em 11,25%. Para Pizzani, contudo, esse movimento está sendo feito mais “no calor da emoção”, com base muito mais em fatores conjunturais que tendem a se dissipar do que propriamente em fundamentos.

O mercado recebeu a agenda do dia com o clima já contaminado por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dadas logo cedo, aumentando o arsenal de críticas a Campos Neto e à política monetária. Em entrevista à rádio O Tempo, atribuiu a alta do dólar à “especulação do mercado com derivativos” e disse que Campos Neto “não está fazendo o que deveria fazer corretamente” e que pretende escolher um substituto “responsável” para iniciar o mandato no ano que vem. Afirmou ver ainda a Selic de 10,5% como “irreal para uma inflação de 4%”.

Mas o dia ainda reservava o anúncio da Aneel, de que em julho vai vigorar a bandeira amarela nas tarifas de energia e que acrescentará R$ 1,885 a cada 100 kW/h. A mudança na bandeira tarifária deve pressionar a inflação de julho, mas o impacto tende a ser dissipado nos meses seguintes, na avaliação dos economistas.

Nos EUA, o rendimento dos Treasuries avançou, com dados de confiança do consumidor da Universidade de Michigan e o PMI do ISM melhores do que o esperado se sobrepondo ao alívio com a inflação do índice de preços dos gastos com consumo (PCE, em inglês) em linha com o previsto.

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