Juros: taxas zeram alta e ficam de lado, com exterior prevalecendo a ajuste após Focus

03/jun 18:06
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros desaceleraram o ritmo de avanço na etapa vespertina e boa parte das taxas acabou migrando para perto da estabilidade. A ampliação da queda dos yields dos Treasuries neutralizou boa parte da alta provocada desde cedo pelo Boletim Focus, que trouxe piora nas projeções de IPCA mesmo com aumento nas medianas de Selic.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano recuaram em meio a dados abaixo do esperado da atividade nos Estados Unidos, que, por sua vez, elevaram as apostas de corte de juros pelo Federal Reserve até setembro.

No fechamento, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,380%, de 10,395% no ajuste de sexta-feira, e o DI para janeiro de 2026, taxa de 10,78%, de 10,79%. A do DI para janeiro de 2027 projetava 11,13%, de 11,14%, e a do DI para janeiro de 2029, 11,60% (de 11,62%).

Os juros chegaram a abrir cerca de 10 pontos-base nas máximas da manhã, refletindo ajustes depois do Focus. Subiram as medianas de IPCA para 2024 (3,86% para 3,88%), 2025 (3,75% para 3,77%) e 2026 (3,58% para 3,60%), a despeito de um aperto também nas estimativas para a Selic em 2024, de 10,00% para 10,25%, e 2025, de 9,00% para 9,18%. Todas elas estão acima da meta de 3%. Ou seja, mesmo com uma postura mais cautelosa do BC, o mercado acredita que a desancoragem vai se acentuar.

“As estimativas de juros mais elevados refletem aspectos externos, como a perspectiva de um processo lento de redução dos juros nos EUA, e internos, como a força do mercado de trabalho, que vem indicando aperto adicional, os riscos fiscais e a desancoragem das expectativas de inflação”, diz o analista da Tendências Matheus Ferreira.

Ao longo da sessão, o mercado foi digerindo o Focus e o exterior foi se sobrepondo na curva a partir da divulgação dos indicadores americanos ainda pela manhã, com destaque para o PMI Industrial medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), que caiu a 48,7 em maio, ante previsão de alta a 49,7. À tarde, as vendas de DI se intensificaram quando a taxa da T-Note passou a testar níveis abaixo de 4,40%. O alívio foi favorecido ainda pela queda do dólar, que à tarde se acomodou na casa de R$ 5,23, ante máximas a R$ 5,26 pela manhã, mesmo num dia negativo para commodities.

Leonardo Cappa, estrategista da Traad, vê potencial de alta para os DIs, relacionada às perspectivas fiscais e à questão da desancoragem, na medida em que crescem as dúvidas sobre qual será o perfil do novo BC a partir de 2025, quando terá terminado o mandato de Roberto Campos Neto. “Vejo os DIs subindo um pouco além, com o risco de decisões do Copom mais pró-governo, mais apertadas e um viés mais expansionista”, afirma Cappa, que não descarta que o juro básico possa chegar a 8% no próximo ano.

O cenário externo, a desancoragem das expectativas e o risco fiscal foram temas de discussão nas reuniões de diretores do Banco Central hoje com o mercado, em São Paulo, segundo apurou o Broadcast. No primeiro encontro do dia, com o Focus tendo acabado de sair do forno, o comportamento esperado para a inflação em 2025 foi bastante discutido, com a maioria acreditando num número mais perto de 4% do que de 3,5%. Na segunda reunião, o foco foi uma possível perda de credibilidade da política econômica num cenário de deterioração das contas públicas. No encontro da tarde, economistas apontaram que a política fiscal tem sido a responsável pela desancoragem das expectativas e manifestaram a opinião de que a autoridade monetária já não tem mais espaço para continuar cortando a taxa Selic.

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