Juros: Temor com economia dos EUA traz volatilidade, mas taxas terminam em baixa

05/ago 18:05
Por Denise Abarca / Estadão

O mercado de juros importou volatilidade do ambiente internacional, nesta segunda-feira, 5, novamente marcado pela aversão ao risco. O temor de recessão nos Estados Unidos ganhou força pela manhã, mas foi amenizado ao longo do dia após a divulgação de indicadores mais positivos sobre a economia americana. As taxas locais alternaram movimentos moderados de alta e de baixa a partir do vaivém dos rendimentos dos Treasuries e do comportamento do câmbio.

No fechamento, predominava o sinal de queda. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026, estava em 11,20%, de 11,28% no ajuste de sexta-feira. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,39%, de 11,49%, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,65%, de 11,75% na sexta-feira.

Na primeira etapa, o diferencial da curva dos Treasuries de 2 e 10 anos chegou a inverter para o positivo pela primeira vez desde 2022, em meio a preocupações com a economia dos EUA. Na esteira do payroll de julho abaixo do esperado, cresceu a percepção de que o Federal Reserve poderia estar atrás da curva, dando espaço a especulações de que poderia vir a fazer uma reunião extraordinária de política monetária para cortar os juros antes do encontro de setembro. O alarme soou e o índice VIX disparou mais de 100%.

A busca pela segurança afundou as taxas dos Treasuries de um lado mas acabou também levando o dólar a romper R$ 5,80, o que deixou confuso o mercado de juros local, sem sinal definido. Porém, a divulgação dos PMIs de serviços nos EUA acima da marca de 50 pontos, que denota expansão da atividade, ainda pela manhã, acabou diminuindo um pouco o nervosismo do mercado, além das reavaliações sobre a possibilidade de uma reunião extra do Fed.

Para o economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, o posicionamento técnico do mercado parece estar dando as cartas. Ele acredita que nenhum dos eventos recentes – aperto monetário pelo Banco do Japão (Boj), sinalização do Fed, guidance das techs e o payroll – tenha sido forte o suficiente para desencadear movimentos tão agudos. “Há uma série de fatores técnicos que explicam melhor do que os fundamentos macro”, disse, citando que muitos mercados podem estar saturados na compra, “seja de empresas tech, ou seja, de dólar contra o iene, por exemplo”.

No fim da tarde, a curva das T-Notes de 2 e 10 anos voltava a ficar negativa, com a taxa da Note de 2 anos em 3,897% e a de 10 anos em 3,784%. O dólar à vista retrocedeu das máximas acima de R$ 5,80, mas ainda assim fechou a R$ 5,7414.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal afirma que os DIs voltaram a rodar nos níveis vistos no começo de julho, quando o presidente Lula deu uma série de declarações de compromisso com a meta fiscal, mas que a deterioração do câmbio coloca pressão sobre o Banco Central, via risco inflacionário. Isso, somado às incertezas com as contas públicas e a desancoragem das expectativas futuras, deve levar o Copom a reforçar a indicação de vigilância na ata do Copom amanhã. “Mas sem sinalizar alta de juros. O BC deve seguir comprando tempo para ver se o cenário externo vai ajudar”, afirmou.

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