Korin, marca da Igreja Messiânica, terá nova fábrica
A busca por comida saudável e a forte pressão de custos provocada pela alta de preços dos grãos, duas tendências aceleradas pela pandemia, levaram a Korin Alimentos a realizar o maior plano de investimentos de sua história. Pioneira no mercado de orgânicos, livres de agrotóxicos e antibióticos, especialmente na produção de aves e ovos, a empresa está desembolsando R$ 65 milhões.
Desse total, R$ 45 milhões serão aplicados na construção de uma nova fábrica em Ipeúna (SP). A unidade deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2023 e vai produzir cortes de aves e de carnes bovinas pré-preparadas para consumo. O restante da cifra já foi destinado a melhorias de eficiência nas fábricas de processamento de aves e ovos para compensar a forte inflação dos grãos usados na ração dos animais.
Fundada em 1994 pela Igreja Messiânica, que a controla até hoje, a empresa 100% nacional nasceu da ideia do reverendo japonês Tetsuo Watanabe de colocar em prática a agricultura natural. Ele liderou a igreja no Brasil e no mundo e faleceu em 2013. A agricultura natural é um dos pilares dos ensinamentos do pensador japonês Mokiti Okada (1882-1955), que fundou a Igreja Messiânica Mundial em 1935.
Luiz Demattê, novo presidente da companhia, veterinário e messiânico, explica que a agricultura natural é um dos princípios da doutrina pregada por Mokiti Okada, voltada para a construção de um mundo sem pobreza, sem doença e sem conflito. Segundo a religião japonesa, a interação natural do solo com as plantas e os animais produz alimentos dotados de energia vital, que supre a fome espiritual do ser humano. Isso o torna mais altruísta e capaz de construir a civilização, explica o executivo.
“A Korin é uma empresa que nasceu com esse propósito e, por isso, foi fundada pela Igreja Messiânica”, afirma. Aliás, a companhia carrega no nome Korin, que significa no ideograma japonês círculos de luz, a trilogia da agricultura natural, formada pela energia do sol, da lua e do planeta Terra.
EFEITO DA PANDEMIA
Demattê diz que, com a crise sanitária, esse diferencial de produzir alimentos de forma sustentável e a preocupação das pessoas sobre a qualidade da comida que consomem e a sua saúde ganharam relevância. “A pandemia foi um marco.”
Heloisa Guarita, presidente da RG Nutri, consultoria especializada em nutrição e alimentação, concorda. Segundo ela, a pandemia fez surgir no mercado de alimentos duas necessidades importantes e crescentes. De um lado, uma população que ficou sem acesso à comida por causa do aumento de preço. De outro, uma parcela de brasileiros que busca alimentos mais saudáveis e que façam sentido para si e para o planeta. “Há uma parte importante da indústria que quer ter uma relação maior com esse consumidor.”
AUMENTO NA PRODUÇÃO
É exatamente nesse filão que a Korin planeja avançar. Quando estiver em pleno funcionamento, a nova fábrica deve praticamente triplicar a capacidade de produção de itens mais elaborados, hoje feitos em parceria com terceiros.
Atualmente, são processadas nas fábricas 23 mil aves orgânicas por dia, entre frango resfriado e congelado. Do entreposto de ovos, saem diariamente 150 mil unidades. Esse volume deverá dobrar até o fim de 2022, por causa de investimentos em eficiência realizados. “Estamos nos reestruturando para enfrentar mudanças importantes, como a demanda maior por alimentos saudáveis e, principalmente, o aumento expressivo de preços dos grãos, algo que em décadas no setor nunca vi nada parecido.”
No ano passado, uma das quatro subsidiárias, a Korin Alimentos – voltada para produtos saudáveis destinados ao mercado de consumo e vendidos em supermercados, franquias e lojas próprias – respondeu por R$ 200 milhões dos R$ 240 milhões da receita total do grupo. Em dois anos, quando a fábrica estiver em operação plena, a expectativa é de que a receita da subsidiária chegue a R$ 400 milhões.
O executivo explica que os lucros não são distribuídos, mas reinvestidos na empresa. “Não é um reinvestimento no sentido de formar uma empresa para ganhar dinheiro”, diz ele. O objetivo da igreja, argumenta, é expandir a agricultura natural por meio da Korin, promover exemplos e inovações. “Trinta anos atrás, o frango livre de antibióticos, uma grande inovação, foi investimento da igreja para que algo nessa linha acontecesse.” Hoje a empresa se sustenta por conta própria e tem 420 funcionários.
NOVOS PRODUTOS
Antes de a fábrica entrar em operação, a companhia já começou a pavimentar a nova etapa de crescimento. Até dezembro, o plano é lançar, no mínimo, 35 produtos que unam saudabilidade e praticidade, como espetinho temperado de frango orgânico para churrasco, por exemplo.
Esses produtos irão se juntar aos mais de 240 itens orgânicos da marca, fabricados por meio de parcerias. Com a nova fábrica, grande parte dos produtos terceirizados será produzida pela empresa. Mas Demattê pondera que uma série de outros itens continuará sob a responsabilidade de parceiros de longa data. Só no fornecimento de grãos, são 340 produtores.
O executivo assumiu o comando da subsidiária de alimentos em julho de 2021, após criar a Korin Agricultura e Meio Ambiente. Esse é o braço de produção de bioinsumos destinados à agricultura e pecuária, mas dentro da porteira.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.