20/fev 08:00
Por Fernando Costa

Não obstante a ênfase ao conjunto dos elementos e práticas do culto religioso quais sejam missa, cerimônia, orações, comunhão, etc.. instituídos pela igreja a liturgia está presente nos diversos cargos e funções, cerimoniais e cumprimento de formalidades e rituais desde os paramentos e insígnias. Revivo o fim dos anos noventa e início do ano dois mil quando cursamos com o inesquecível Dr. Jorge Ferreira Machado dentre os amigos que ainda hoje povoam nossos corações as aulas no Curso de Teologia no Instituto Teológico Franciscano.

O Corpo Docente era de alta envergadura e nessa disciplina os Freis José Oriovaldo da Silva, Fernando Araújo Lima e Alberto Beckäuser estetas incansáveis no ministério curricular. Em meio às alocuções nos lembravam de que o homem desde a antiguidade buscou um contato com a divindade sejam na expressão corporal, cantos, danças, genuflexões, prostrações, e inclinações. Nesse limiar as plantas, os animais e as flores faziam parte do ritual a serviço da celebração.

Criaram neologismos, frases, palavras e homilias  ao celebrar a vida. Ao perscrutar a palavra celebrar, sua importância a resumimos na exaltação, tornar célebre em honra, cercado de cuidado e benquerer. A liturgia se faz presente em várias fases da vida desde as formaturas, ao festejar o emprego, a vitória da agremiação, a colheita, a vitória no vestibular, as bodas nupciais, o nascimento de um filho ou a inevitável morte…

A liturgia está nas orações unindo o humano ao divino e do céu o Criador as acolhe. É o diálogo entre Deus e seu povo na celebração do mistério e memorial da salvação. A Eucaristia celebra a morte de Cristo em nosso favor se constituindo em ação de Cristo e ação da Igreja. São sinais sensíveis, onde os gestos e palavras nos comunica uma realidade invisível, mas, real nas Pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo.

A liturgia sem a fé seria mero espetáculo vazio aos objetivos cristãos. Ao deitar ou se levantar a imagem, o terço, os textos sagrados que estão à mesa de cabeceira não são mero adorno, eles reportam ao espiritual. A palavra é o veículo comum nas comunicações entre pessoas. Na igreja o espaço celebrativo, a ornamentação, os objetos litúrgicos, paramento, expressão corporal e símbolos fazem parte do conjunto harmônico na liturgia. Nesse mesmo diapasão a postura, sentados ou de pé, prostrados, ajoelhados ou em genuflexão, estaremos cumprindo a liturgia. Há quem pense que o silêncio seja a inexistência da palavra, no entanto, ele é, sobretudo, uma atitude de fé e reverência ao Deus Uno e Trino em Cristo Ressuscitado.

Ele nos permite introspecção ao mistério, conforta e alimenta. Na Santa Missa há vários momentos em que nos recolhemos ao profundo silêncio a exemplo do “Oremos”; depois da homilia, durante a Consagração Eucarística a ausência de ruídos é imprescindível. Profundo silêncio em adoração sem manifestações musicais ou palavras dos fieis naquele instante! Muitos desejam saber o que é ostensório, ambão ou estola. O tempo e a dedicação se encarregam de nos habituar com a âmbula, chamada também de cibório ou píxide, aspersório, caldeirinha, castiçal, cálice, candelabro, galhetas, custódia, círio pascal, corporal, hóstia, incenso, patena, pala, manustérgio, Pia Batismal, naveta, andores, luneta, partícula, turíbulo, teca, sanguinho. 

A assiduidade nos familiariza com a importância do altar, a distinguirmos o que seja a mesa da palavra, presbítero, nave da igreja, credência, púlpito, hoje pouco usado, sacrário ou tabernáculo. As diversas cores dos paramentos cada qual usado em seu tempo e de conformidade com as datas e celebrações as cores litúrgicas (branco, vermelho, verde, roxo, preto e rosa) são prescritas no Missal Romano. O breviário e o lecionário são de suma importância, bem assim a liturgia das horas. Durante a Santa Missa invocamos o “aleluia”  principalmente na aclamação do evangelho ao louvarmos ao Senhor, exceto na quaresma.

Todos os objetos usados a serviço do altar são conhecidos como alfaias. Quando dizemos “amém” é o mesmo que  “assim seja”, “de acordo”, “sim” é, no dizer de Santo Agostinho “a nossa assinatura”, “o nosso compromisso.” A igreja tem o seu ano litúrgico durante  doze meses. São vários ciclos desde o advento até o tempo comum. Vez por outra perguntam o que é “antífona”? Em resumo é um texto curto antes ou depois de cada salmo do ofício. Ele expressa a ideia principal. O batistério, cânon da missa, catecumenato, epiclese, epístola, doxologia, concelebração, epístola são parte da liturgia que nos permite a beleza de convivermos com o ritual das exéquias, a compreensão da “fração do pão”, o momento do lavabo que antecede a consagração, o memento, as oitavas e aprendermos que o turiferário é aquele que conduz o turíbulo, assim como, o cruciferário é aquele que conduz a cruz nas procissões. Esta divagação Senhor é um pedido de piedade neste momento em que revivo as aulas e, sobretudo, uma invocação a Vossa misericórdia por intermédio deste inesgotável tema asseverando que viver é uma sagrada liturgia cujo ápice será, se o Senhor nos permitir, o céu. Kyrie Eleison.

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