Labaredas do alerta

05/09/2018 12:30

Chamas possuem, nas labaredas que lançam ao cosmos, o princípio da destruição e do fim ; atemorizantes, rubras, colorem de sangue fervente o azul do céu ou iluminam a negritude da noite, esfumaçando e encobrindo a imagem da lua; ferventes, na beleza do colorido selvagem, não poupam os atingidos pelo luscofogueante desdobrar de tanta beleza e crueldade.

Um incêndio de imensurável densidade de calor nada poupa, enquanto ceifa vidas e transmuda em fuligem e pó as conquistas da civilização. E ele escolhe as vítimas mais frágeis, com espaços e condições para o evoluir da sua sanha de destruição. Prédios e sítios desprezados por incúria e descaso de quantos deveriam respeitá-los com a dignidade que fizeram por merecer por arte e presenças dignas formadoras do melhor legado civilizatório, liquefazem-se em labaredas como se representassem a sangria desumana que as criaturas evoluídas promovem no seu dia a dia da passagem pelas tênues fímbrias da minúscula esfera que a todos abriga.

Nada é mais cruel do que o fogo no seu desdobrar de destruição avassaladora, porque ceifa não apenas a vida mas também a alma humana por seus tesouros acumulados em registros testemunhadores da frugalidade presente que ordena os feitos para a edificação do futuro.

Fogo e água, benfeitores da vida e, por vezes, tragédias assumidas pelo mau uso, pela desfaçatez, pela indiferença e, pior que tudo, diante do descaso criminoso pelo qual são tratados os bens públicos, os tesouros da humanidade e que alguns poucos indecentes cidadãos transformam em patrimônios pessoais, como se fosse eterno o ciclo da vida, que tem começo, meio e fim, limites impostos inexoravelmente aos patrimônios das múltiplas naturezas que colorem o mundo.

Quando o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, palácio de reis e imperadores, sob digno destino de órgão público de preservação de nosso acervo da História Pátria e de Tesouros da Humanidade, vê-se destruído pelo excesso de fogo e carência de água e, pior, corroído pelos cupins termitófilos devastadores do madeirame e termitófilos humanos travestidos de maus e insensíveis políticos, de estruturas morais esburacadas, assumimos que deve-se lançar o brado de  “- Basta!” de ecos infinitesimais pelos brasis afora, no sentido de afastar a camarilha de exercício profissional da política carreirista e inconsequente, para a mudança necessária do comportamento político. O momento é propício e a arma é o pleito eleitoral.

Mesmo, infelizmente, constatarmos que a renovação não atende como devia : a maioria vem com a reeleição e novos postulantes demonstram nos olhos e nas frases lidas nos programas eleitorais gratuitos que de nada entendem e que somente desejam ingressar no grupo das mordomias palacianas. Cada um, gente!

Mas a oportunidade do menos pior está próxima e devemos aproveitar nossa revolta pelas quase completas duas décadas do século XXI, que vivemos sob constante abismo de idéias, realizações, mínima inteligência e tudo despencando moral abaixo.

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