Lagarde: economia da zona do euro desacelera ante pressão da guerra na Ucrânia

21/07/2022 10:35
Por André Marinho, Gabriel Caldeira e Sergio Caldas / Estadão

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou nesta quinta-feira, 21, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pela guerra russa na Ucrânia. Em coletiva de imprensa após decisão de subir juros em 50 pontos-base, Lagarde afirmou que um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia em meio à redução do fornecimento de gás da Rússia.

“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para possibilidade de enfraquecimento do crescimento global.

Christine Lagarde também afirmou que a inflação na zona do euro está “indesejavelmente alta” e deve permanecer acima da meta de 2% por “algum tempo”. Em junho, a taxa anual do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do bloco da moeda comum atingiu nível recorde de 8,6%.

Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu. Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral. Persistentes gargalos na cadeia produtivo e o enfraquecimento do euro também foram citados como responsáveis pela tendência.

“Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou.

A dirigente acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”.

TPI

O BCE também anunciou, nesta quinta-feira, a criação do Instrumento de Proteção da Transmissão (TPI, na sigla em inglês), que visa atenuar as divergências nos custos de empréstimos soberanos entre os países da zona do euro. O programa de compras foi aprovado pelo Conselho da instituição durante reunião de política monetária, em que foi decidido aumento de 50 pontos-base nos juros básicos.

Segundo comunicado, a ferramenta permitirá que os termos da política sejam transmitidos de maneira mais uniforme entre os integrantes do bloco. O TPI passará a integrar o arsenal permanente do BCE e poderá ser ativado para conter “dinâmicas de mercado injustificadas e desordenadas que representam uma séria ameaça à transmissão”.

As dimensões das compras dependerão da severidade dos riscos, mas não serão restringidas. “Ao salvaguardar o mecanismo de transmissão, o TPI permitirá ao Conselho do BCE cumprir de forma mais eficaz o seu mandato de estabilidade de preços”, explica.

O BC europeu reforçou que manterá flexibilidade nos reinvestimentos dos resgates do Programa de Emergência de Compras de Pandemia (PEPP, na sigla em inglês).

O BCE já havia sinalizado que criaria uma nova ferramenta contra a fragmentação da zona do euro em reunião emergencial no mês passado. A medida responde ao movimento no qual os custos de empréstimos de economias endividadas cresce em ritmo muito mais rápido que o de países com posição fiscal mais sólida.

A Itália, em particular, tem sido particularmente afetada, com o problema agravado pela crise política. O anúncio da renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi, nesta manhã, ampliou o spread entre os bônus soberanos do país com o da Alemanha.

Christine Lagarde reiterou que o TPI será utilizado para conter dinâmicas de mercado desordenadas e indesejadas. O programa, foi aprovado de maneira unânime, segundo Lagarde. “Avaliamos que o estabelecimento do TPI é necessário para apoiar a transmissão efetiva da política monetária”, disse.

A presidente do Banco Central Europeu explicou que todos os países da zona do euro estarão elegíveis a utilizar a ferramenta, mas terão que seguir regras fiscais da União Europeia e ter trajetória de dívida sustentável.

A banqueira central comentou ainda que o TMI permitiu que o BCE subisse juros de maneira mais agressiva, em 50 pontos-base. Para ela, as ações tomadas pela instituição são consistentes com o compromisso por estabilidade de preços.

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