Lamúrias

20/03/2018 12:20

Ouço reclamações na fila do banco, supermercado, comércio, hospital, repartições públicas, e pasmem, até nos templos religiosos; haja queixa. Dizem que em sua época a vida era mais fácil, o custo menor e as amizades duradouras. É certo que a crise está a contribuir ao estresse e a maioria das pessoas se restringe aos poucos amigos, às reuniões em casa sem muito “rococó” ou “rapapé” como diziam os antepassados. As idas ao cinema ou aos bons restaurante estão em segundo plano. Longe de pensar que esses momentos são apenas para assistir a um filme ou se é uma ida ao jantar onde o objetivo é de apenas se alimentar. 

Nessas oportunidades se comenta os fatos do dia, os planos para o período e o convívio, principal motivo. Estar em casa é ótimo, percorrermos o universo só nosso sem formalidades ou linho engomado sem perdermos o feeling de uma taça de cristal ao brindarmos com o vinho de nossa preferência o dia que se despede ou o aniversário seja qual for. As festas infantis, casamentos, batizados, formaturas em geral barulhentas não podem ser abolidas de nossa convivência social. 

Nem sempre a felicidade está unicamente na sofisticação. Não é a primeira vez que mencionei a minha admiração pelos moços ao saborear os cachorros quentes nessas carrocinhas ou automóveis espalhados pela cidade ou aos inúmeros casais com seus sacos de pipoca ali à Praça da Liberdade. Isso é felicidade. Verdade que os tempos são outros, a população é forçada a enxugar os gastos, mas mesmo que se goste de assistir a um bom show aqui, no Rio ou nas cercanias quando tais ocorrem a primeira coisa que se pensa é no perigo, a falta de segurança e se acaba debruçado num livro ou na televisão. 

Aqui por exemplo nesse período de chuva constante você sai e ao retornar precisa de fazer um malabarismo para evitar a Rua Coronel Veiga e os locais onde os alagamentos são comuns. Estar-se em um local sem estacionamento ficamos à mercê de flanelinhas e ai de nós se não pagarmos o que pedem. Correremos o risco de um prejuízo maior que pode ir desde a agressão física até a danificação do automóvel… 

Vivemos a era dos celulares que se por um lado vieram encurtar as distâncias, por outro, criaram embaraços e falta de comunicação em família. Vejo pessoas transitarem pelas ruas gritando, falando alto, rindo, chorando e se pensa que estão a bradarem sozinhos. Não, estão a falar com o fone preso aos ouvidos ou simplesmente com o aparelho ligado. Antes o jovem se preparava para os bailes de fim de semana onde conheciam outros e dali nasciam os namoros. Hoje a palavra é “ficar”. Beber e fumar sempre foram nocivos à saúde, perto dos pais, jamais. À época juvenil além da formação cultural, religiosa e social recebidas em casa éramos preparados para cumprir nossa missão com responsabilidade. 

A Sagrada Eucaristia era e é a expressão máxima de nossa fé, que se tomavam a bênção aos pais e aos idosos e se beijava as mãos. Em minha cidade, por exemplo, nossa formação se limitava aos cursos de Contador, magistério, depois que surgiram o científico e o clássico. Minha infância foi livre pelos campos, colhendo frutos, na igreja com prioridade aos estudos. Ainda menino era levado à Casa D’Angelo, o chá, geleias e torradas Petrópolis… Precisamos viver, intensamente e agradecidos ao Senhor e a Senhora Mãe os dias e os minutos que nos são concedidos. Não vale a pena ficarmos clamando que antes era assim ou tanto quanto, vivamos o hoje com menos clamor e mais amor.


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