Lei vai criar programa de estímulo à atuação das doulas no SUS

09/03/2019 12:40

Nove meses de gestação, um amor que vai crescendo dentro de si a cada dia, muitas questões na cabeça o tempo todo… Como será o bebê que virá? Qual seu sexo? E como recebê-lo da melhor forma? Um corre-corre danado domina a vida da gestante: ajeita quarto, compra as roupas, sente os movimentos na barriga, ama, se emociona, sente vibrar dentro de si o maior sentimento da vida de uma mulher: o ser mãe.

Mas e as preocupações quanto ao parto? Como será? Cesariana ou normal? O que fazer quando a bolsa estourar? Será que dá pra aguentar as dores até chegar a hora de ter o bebê normalmente? Por esses e outros motivos, que surge a doula, uma espécie de mão amiga das gestantes, que oferece apoio e instrução antes, durante e depois do parto.

“Escolhi uma doula porque eu precisava me sentir segura, precisava mesmo de alguém para compartilhar não somente o acompanhamento para o meu bebê, mas sim me acompanhar. Me ajudar a vencer as barreiras das dúvidas e dos medos. A mãe que nasceria ali também precisava conhecer a sua força, seu corpo e seu limite. A doula foi essencial em me mostrar até onde e até que limite ia o meu corpo. Como tudo era novo, ter uma doula foi necessário para me sentir mais segura e ter conhecimento de tudo que estava acontecendo na gestação. Não só com um pré-natal mas eu diria uma preparação como um todo”, disse a Terapeuta Holística Mayara Hemmings. 


A orientação é fundamental para que essas famílias estejam confortáveis no momento de receberem o bebê. São informações baseadas em evidências científicas que chegam até os pais para que tudo flua de forma mais tranquila. Muitas das “mamães” são acompanhadas desde o início da gestação. É um trabalho que dá suporte à equipe médica, para que o conforto seja garantido.

“A gente, enquanto profissional, é treinado para passar informações sobre todos os tipos de parto. Vamos tendo contato com a família, para oferecer esse apoio que por diversas vezes o médico não consegue dar em uma única consulta. Acabamos servindo como fonte para que elas tirem as dúvidas, trabalhamos o emocional, pra que elas cheguem no parto tranquilas e certas da escolha que fizeram”, explica a doula Júlia Otero.

As profissionais têm o papel de apoiar essas mulheres, fazendo com que tenham uma diminuição da dor do parto por métodos naturais, além de oferecer técnicas como massagem, água quente e aromaterapia, que auxiliam nesse processo. “O diferencial de ter uma doula ao seu lado, é que você vai ter uma mulher, que conhece as etapas do que está passando e tem sim algum conhecimento técnico, mas ela não estar ali para julgar conduta médica ou realizar qualquer tipo de intervenção fisiológica, como fazer o parto, auscultar os batimentos cardíacos fetais, aferir pressão, dentre outras coisas, mas sim, para te apoiar enquanto mulher, te ajudar com técnicas de relaxamento que aliviam a dor”, afirma a doula Laís Agassis.

Lei é comemorada como conquista e estímulo a função das doulas 

A lei estadual de número 8.307/19 sancionada pelo governador Wilson Witzel e publicada nesta semana no diário oficial do estado, instituiu o programa Toda Mulher Merece uma Doula, que reunirá políticas públicas para a atuação destas profissionais durante a gravidez, o parto e o pós-parto e será criado no Estado do Rio. O texto, de autoria do deputado Carlos Minc (PSB), tem o objetivo de desenvolver políticas de inclusão das doulas nos serviços de saúde em articulação com os municípios.

As profissionais, enxergam este momento como um reconhecimento do trabalho realizado, além de representar avanço no segmento. “É importante essa decisão da Alerj para o reconhecimento. Geralmente temos muito problema com isso, porque muitos médicos são contra. Então essa lei vai ajudar muito no nosso trabalho. Acho que foi sofrido até chegarmos a esse momento, mas isso representa um grande avanço para que vejam isso como parceria nossa com toda aquela família”, diz Júlia. “É um ganho maravilhoso para todas as mulheres, pois assim teremos maior acesso ao parto humanizado que todas as mães sonham”, explica Laís.

Confiança que se torna uma relação de amizade 

Os constantes encontros, diálogos, inúmeras ligações e mensagens, tornam a relação entre gestantes e doulas, uma amizade sincera e que permanece. “A gente entra como profissional e sai como amigo. Transmitimos confiança. A mulher entra no hospital sabendo que está preparada. A doula acompanha os primeiros cuidados com o bebê, vai ajudando em coisas que a mulher pode ter medo de fazer e ser prejudicial. A gente traz esse amparo e também auxilia no pós-parto, com questões como amamentação, primeiros cuidados, é muito importante isso”, diz Júlia Otero. 

“Depois de eu ter meu filho, a doula ainda passou a noite no hospital com a gente, colocava ele no meu peito, trocava fralda e ela permaneceu com ele agarrado no colo dela. Ela teve um carinho muito especial por mim. Tenho certeza de que o nascimento dele seria totalmente diferente sem ela. Teria perdido a coragem que tive com esse apoio dela, não teria passado por essa experiência e processo super importante para nós”, explicou a empresária Carol Rizzo. 

“Esse apoio foi essencial do início do pré-natal até o trabalho de parto pois a doula é uma amiga que vai te ajudar a encarar a coisa de uma forma mais leve, inclusive a dor de uma contração! Ter uma doula me trouxe conhecimento e segurança sobre tudo que estava acontecendo comigo antes, durante e depois que o bebê nasceu também”, disse Mayara.  

As mulheres com esse apoio se sentem mais fortes, emocionalmente estabilizadas e permanecem convictas até o fim. “É uma dedicação extrema. Tem dias que ficamos de 30 a 40 horas acompanhando um parto. Em algumas horas não dá pra comer, ir ao banheiro… é uma doação o tempo todo. Para estar disposta a atender o telefone de madrugada e tirar dúvidas, ouvir, dar dicas o tempo todo, não dá pra deixar de ter uma concentração muito grande com aquela mulher”, afirmou a doula.

O braço direito que uma mãe precisa 


Diante de tantos conflitos, a futura mamãe encontra nas profissionais, o ombro amigo que precisa para suportar um turbilhão de coisas ocorrendo ao mesmo tempo. Além das dores, o pensamento, as questões que permeiam esse universo e até mesmo a decisão de ter que optar por uma cesárea, são amparadas pela doula.

Com mais de 21 horas no hospital, Carol Rizzo e Júlia Otero passaram por massagens, aromaterapia, trocaram as posições da gestante muitas vezes e até chegaram a encarar uma maratona caminhando durante algum tempo para estimular a vinda do pequeno Nicholas. Mas, o parto normal acabou não vindo e até nisso, a empresária diz que encontrou na doula, o braço direito que precisava.

“Acabei não conseguindo o parto normal, mas mesmo com cesárea foi essencial o apoio dela, principalmente por eu não estar preparada para fazer a cesárea. Ela me auxiliou em algumas manobras que eu não queria na cesárea, na ambientação do centro cirúrgico, fez o parto ser mais natural ainda que desta forma. Ela esteve ali pra garantir que minhas vontades ocorressem dentro do possível e saudável para mim e para o bebê”, finaliza Carol. 


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