Lemas e Dilemas
Mais de um milhão de advogados e cerca de 1.300 faculdades de Direito nos fazem este país de bacharéis que, a resolver de verdade um problema, prefere fazer leis. Mais de 10 milhões! E leis em excesso dão ilegalidade muita. Ficando no “basicão”: gato de energia, corte pelo acostamento, filme pirata, burlas da lei seca, fuga de pedágio, táxi pirata, imposto sonegado, propina do guarda, mensalão de político, petrolão de partido fraturado, pedalada fiscal. É muito jeitinho brasileiro para tanta lei. Daí, elas “não pegam”. A não ser que uma “Lava-Jato” pegue o infrator pelo pescoço e diga: a lei vale! E o outro lado da moeda. O descarte do espírito da lei, para apego à forma, à filigrana. A chicana, a despudorada malandragem jurídica que se vê em defensores de Dilma e de Cunha. Por isso tudo, o saudoso Millôr Fernandes sugeriu Constituição Brasileira de artigo único: “Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”. É um jeito de – se olharmos com corajosos olhos nossa face auriverde no espelho – resumir a essência que, como povo, às vezes, nos falta.
Os fariseus do Evangelho aumentavam com hermenêutica restritiva a carga das 613 leis judaicas. Provocadores, tentavam encurralar a Cristo com sofismas cascas de banana. Afinal, Ele tinha realizado curas no sábado sagrado! Seus discípulos por vezes não faziam todas os rituais pré-refeição! E, ”sacrilégio”: contra a letra da lei, Jesus livrou a adúltera do apedrejamento. Jamais se intimidando com as armadilhas dos legalistas que o queriam em contradições, Jesus afirmou: não viera descumprir a Lei, mas sim cumprir TODA a Lei. E esclareceu. A Lei se resume a: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Essência!
A bandeira brasileira tem lema positivista. Mas aprendemos que faltou na bonita faixa branca que atravessa o redondo céu estrelado da bandeira, o Amor, base imaginada por Augusto Comte para a operação da Ordem que resulta em Progresso. Discordemos do positivismo, mas não do que nos daria belo resumo de metas e objetivos o lema: amor, ordem e progresso.
Temer, o bacharel da vez, optou pela frase da bandeira como lema de governo. Que não soe como deboche daqui a pouco, caso nos cheguem desordem e atraso. Pois deboche parecem, vistos de agora, contabilizados os lucros de bancos e empreiteiras sob seu governo, o lema do Lula do Triplex: “País Rico é País sem Pobreza”; e o lema da Dilma das pedaladas, quando se vê a situação desesperadora das escolas e universidades públicas: “Brasil, Pátria Educadora”. Igual deboche parece, frente ao descalabro fluminense, o lema da bandeira do Estado do Rio de Janeiro: “Gerir a coisa pública com retidão” – Recte Rempublican Gerere. Sem esquecer o de Petrópolis, – “Buscando sempre o mais elevado” (Altiora Semper Petens) – que nos faz, tantas vezes lamentar mesquinharias paroquiais.
Nesse quadrante do impeachment que já virou novela chata, proponho a conjugação de lemas cuja essência nos salva de nossos dilemas. Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos. Para que tenhamos íntegra vergonha na cara e exerçamos retidão na política e altos propósitos na vida. Que algo assim alcancemos. Em tempos olímpicos, que o façamos mais rápido, mais alto, mais forte – “Citius, Altius, Fortius”. Não a correria para alcançar o próximo Pokemon-Go da alienante febre atual. Mas a caminhada firme para que haja Amor. Ordem. Progresso. Menos leis, mais essência.
denilsoncdearaujo.blogspot.com