Liceu: signo da educação petropolitana

 Meu maior orgulho é o de pertencer à história do Liceu Municipal, ex-aluno, professor, sendo meu tributo um ensaio publicado pela Tribuna de Petrópolis estabelecendo sua origem no extinto Liceu de Artes e Ofícios de Petrópolis, uma resposta à insana onda política que surgiu neste período (2010) contra a instituição.

Em anos subsequentes, constatamos que diversos dirigentes municipais produziram coro aos “pedagogismos”, articulados por insatisfeitos presentes na esfera pública municipal que consideravam o Liceu como um “celeiro de privilégios”, retorquindo que a instituição teria que se igualar às demais escolas municipais, como preceitua a legislação. Discurso que foi endossado por outros funcionários auxiliares que discordavam do tratamento que diretores do Liceu dispensavam a seus funcioná- rios, antigos na rede.

Semelhante discurso não encontrou respaldo nas antigas hostes de professoras municipais, com formação nas extintas “escola normal”, fator que mais fomentava o ódio de jovens concursados à instituição.

Valores administrativos esqueceram-se da história desta instituição que antecedia a todos os demais centros de formação do ensino básico do município da atualidade. Esqueceram que o Liceu foi o principal centro de formação profissional de nossa cidade no século passado, após a Segunda Guerra. Esqueceram que desta instituição saíram centenas de estagiários para programas do revolucionário projeto dos miniliceus, projetado pelo saudoso professor, historiador e secretário municipal José Ribeiro de Assis, nos anos 60, que descentralizou o segundo ciclo (ginásio) distribuindo para as escolas dos bairros e distritos, a expansão do ginásio. Esquecem que das salas do Liceu e de seu escritório modelo saíram contabilistas que constituíram e constituem a base da antiga Associação Nacional de Contabilistas, assim como sua presidência, além do fornecimento de valiosa mão de obra para centenas de empresas do país. Esquecem que de seu curso de segundo grau, hoje sofrendo pressões para seu fim, saíram médicos, advogados, engenheiros para inúmeras empresas e projetos municipais e estaduais, assim como professores, mestrandos e doutores.

Esquecem que o Liceu foi o primeiro colégio da cidade a ter um consultório dentário, acompanhando a campanha nacional de combate à cárie. E esquecem que, na última década, alunos do Liceu foram os melhores colocados de escolas públicas em vestibulares, no Enem, na Olimpíada de Matemática entre outros concursos. Esquecem que o quadro da premiada artista plástica Djanira foi um presente patrimonial para a comunidade petropolitana a ser afixado no salão do “novo ginásio erguido” (1952), que nesta época representava uma revolução em educação, sendo hoje vitima de boatos que ameaçam sua permanência na instituição; seus alunos junto aos do Cenip, lutaram contra a opressão ao constituir a Associação Petropolitana de Estudantes (APE). Muitos foram presos pelos agentes da ditadura.

Tantas foram as ações perpetradas contra o Liceu nas duas últimas décadas que descaracterizaram seu corpo pedagógico, sua estrutura, conduzindo inúmeros mestres à tristeza, com solicitação de aposentadoria. Ex-diretores faleceram inconformados, magoados com a política de desconstrução desta obra.

“O Liceu possui uma história que é maior que a da própria Prefeitura”, palavras de Luiz do Carmo Malheiros, seu diretor ao final dos anos 60, fato que compreendi quando aluno, ao participar de maratonas para organização de sua primeira biblioteca, onde ocorreram doações privadas de inúmeros escritores como Tristão de Ataíde (1968).

Realmente uma escola cuja história é do tamanho do município, que recentemente lutou contra aqueles que desejavam seu prédio para expansão da Câmara e que perdeu seu segundo Campus adquirido com luta para sediar sua extensão.

Hoje são as estruturas corporativas, sindicatos que desejavam seu fim, desconhecem está valiosa história, falam em nome de um corporativismo político míope. O Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio de Petrópolis bem mais que uma instituição educacional é um signo de memória, patrimônio cultural que se encontra além dos desvelos pedagógicos ou interesses destes “falsos modernistas” da educação, pois pertence à comunidade petropolitana.