Longa ressaca em 2016

05/01/2016 12:00



Encerramoso ano de 2015 embriagados pela crise política e econômica. Em 2016o que nos espera é uma longa e dolorosa ressaca, um ano pesado,ainda que sob a ótica de analistas panglossianos ou comprometidoscom o lulopetismo.

Dilmae o PT quebraram o país, destruíram as finanças públicas. Norastro da incompetência e da corrupção, as instituições emfrangalhos. Com Renan Calheiros e Eduardo Cunha, no Legislativo, eRicardo Lewandowski, no Judiciário, tem-se a dimensão do desastre,sepultadas as possibilidades de impedimento da presidente faltosa.

Olulopetismo conseguiu transformar o jogo do impeachment numa lutapolarizada entre Eduardo Cunha e Dilma Rousseff. A população,ciente de que não lucraria nada com o confronto entre figuras tãodeploráveis, alheou-se das ruas e praças da Nação. E sem aparticipação do povo não há projeto de cassação que prospere,especialmente com o Supremo Tribunal Federal como firme aliado dosinteresses do Planalto. De mais a mais, não há entusiasmo nasubstituição de Dilma por Michel Temer, um contrabalanço com osvícios históricos do PMDB.

Naoutra ponta, CUT, UNE, UBES, MST, MTST, Via Campesina e outras siglasé que agora tomam conta dos espaços públicos em defesa do mandatode Dilma, alimentados com fartos recursos do erário federal. Noproscênio das manifestações o dístico do “Fora Cunha”, querealmente não tem condições de continuar presidindo a CâmaraFederal. Postam-se também no combate à política econômica dogoverno, como se dele não participassem, e conseguem ver rolar acabeça do ministro Levy. Assim, apropriam-se do discurso daoposição, que se encontra perdida, com lideranças atabalhoadas esem rumo.

Tudoindica que amargaremos o governo Dilma até 2018, mesmo com aquebradeira geral e o descrédito do Brasil junto aos organismosinternacionais. E qualquer projeto de recuperação demandará umgrande esforço e ingentes sacrifícios do povo brasileiro, com afalência de metas de estabilidade e princípios de políticaeconômica duramente conquistados com o Plano Real.

Coma inflação e cerca de três milhões e quinhentos mil desempregadosem 2016, os benefícios sociais dos programas de redistribuição derenda descem pelo ralo, com o retorno da nova classe média a níveisde penúria, segundo índices de órgãos do próprio governo. Namelhor das hipóteses, as previsões apontam um crescimento pífio doProduto Interno Bruto, a partir de 2017, sem levar em conta a crisepolítica, com tendência de agravamento, pelo apetite fisiológico einsaciável da tropa aliada no Congresso, a ser alimentada pelapresidente, como alternativa para manter-se à testa do governo.

Apesardos pesares, ainda alimento esperanças. Cuido que a OperaçãoLava-Jato, sob a liderança do juiz Sérgio Moro, passe realmente umavassourada nessa gente toda, mesmo com as pedras aqui e ali postas emseu caminho pelas instâncias superiores da Justiça brasileira.

Impossívellevar o país a sério, com Renan Calheiros na presidência do Senadoe do Congresso, mantida a Câmara sob a regência de Eduardo Cunha.As provas contra ambos são contundentes. Renan, aliando-se a Dilma eLula, espera escapar do cutelo, enquanto Cunha vai ao fundo do poço,com punição inafastável. Minhas dúvidas ainda residem na atuaçãodo Supremo, com o pior colegiado da história da Corte, com uma ououtra exceção. Mas o imprevisível às vezes acontece.

paulofigueiredo@uol.com.br

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