Ludovico

22/07/2017 13:25

Criaturas humanas que cativam pelas atitudes sinceras, fraternas e leais, além de inspirarem confiança e serem desprovidas de vaidades tolas por jamais exibirem o amargo pior encontrado na convivência social, são raras.

Convivemos com pessoas, que conosco compartilham momentos de alegria, porém a maioria se omite nas horas do infortúnio. Também somos perseguidos por néscios que almejam tirar algo nosso naquilo que nossa capacidade os suplanta.

A vida é assim com alegrias e tristezas e, entre elas, a perda de parentes chegados, amigos verdadeiros, personalidades do dia a dia de nossa vicinal estrada de acesso à rodovia do fim.

Ludovico. Nome incomum aqui no Brasil. São poucos e um deles, o meu amigo Ludovico Landau Remy, que sempre me disse ser leitor de minhas crônicas :

– Joaquim, você escreve com humor. Rio e me divirto e aprendo com as tiradas de humor que revelam o real universo do comportamento humano ! – reiterava sempre o bondoso Ludovico.

Perdi meu leitor e meu amigo, sepultado no dia 19 de julho último, no cemitério de Itaipava.

Não era um cidadão comum. Não! Ludovico herdara do pai o dom do ser empreendedor, a capacidade empresarial, que aprendera no tempo da Santa Júlia Têxtil, de seu pai Henrich Landau Remy, indústria sediada na Mosela e onde residia a operosa família.

Fechada a Werner, indústria de sedas, no Bingen, paralisada a fábrica, como tantas outras do ramo têxtil no Município, os empreendedores Landau Remy, resolveram adquirir a indústria, especializada em seda pura e filamentos artificiais, o que fizeram, encerrando as atividades da Santa Júlia Textil. Na nova casa salva da crise, recomposta, dinamizada, pai e filhos a reergueram e a Werner ultrapassou 100 anos de atividade (hoje conta com 113 anos).

Falecido o patriarca, Ludovico e seu irmão, mantiveram a indústria já, então, última sobrevivente do debacle que fez ruir as nossas fábricas do ramo têxtil. A Werner, pelo contrário, sobrevoou os píncaros do temor com coragem, competência e crença.

Veio o “Made in China”, com suas tradicionais e cobiçadas sedas, penetrando nos atacadistas e varejistas, fazendo estremecer a nossa Werner, que não capitulou, buscou a luta, manteve-se na dura competição. E porque os irmãos Landau Remy ali estavam marcando presença e enfrentando a dura concorrência.

Premiado industrial Ludovico amava as artes, a cultura em geral e, sempre que solicitado contribuía no patrocínio dos melhores empreendimentos. Tive a honra, o privilégio, de receber de Ludovico tecidos para confecção de trajes teatrais, notavelmente para a minha peça “A Galinha Borralheira”, cujo vestuário foi todo produzido com seus tecidos multicoloridos. Como, também, em outras peças encenadas pelo TEP – Teatro Experimental Petropolitano seu apóio e carinho fizeram parte do sucesso das representações.

Saudade imensa de sua gargalhada, seu jeito aberto e espaçoso de ser, fascinante de carinho e alegria.

Ludovico, esta crônica para você está desprovida do humor que tanto apreciava, porém rica em sentimento, em confissão de amizade, de crença no verdadeiro companheirismo só existente e possível em criaturas humanas perfeitas como você.


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