Lula e Janja se casam nesta quarta em SP; socióloga ganha espaço na pré-campanha
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 76 anos, e a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, de 55, vão se casar nesta quarta-feira, 18, na capital paulista. O namoro – e o futuro casamento – foram anunciados pelo petista em um palanque montado por militantes assim que deixou a Polícia Federal em Curitiba, em 2019, após 580 dias preso. Agora, a cerimônia acontece em meio à pré-campanha à Presidência, que ressalta cada vez mais a imagem de Janja, já chamada de “primeira-dama”, como símbolo de amor e seriedade do ex-presidente.
A festa para 200 pessoas é cercada de mistério. A lista de convidados foi disputada – o ex-senador Eduardo Suplicy, por exemplo, foi um dos que ficaram de fora. Amigo do petista há anos, d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo de Blumenau (SC), vai celebrar o casamento em uma casa de eventos na Vila Olímpia.
Apesar de afastarem a ideia de que o casamento tenha apelo na campanha, petistas já compararam o enlace com o “compromisso” que Lula quer assumir com o Brasil. Na véspera do casamento, o ex-presidente compartilhou no Twitter um vídeo em que diz: “Lula casa e assume responsabilidade”.
“O Lula está ficando com a Janja… Não. O Lula não fica, o Lula casa, e assume responsabilidade como eu quero assumir responsabilidade com o Brasil”, afirmou o petista na gravação. Em um recorte do mesmo vídeo, ele se diz apaixonado: “decidi casar outra vez, porque eu acredito que o Brasil tem jeito”.
Em outro trecho, afirma que alguém que quer casar aos 76 anos “só pode fazer o bem para este país”. “Esse país está precisando de amor, esse país está precisando de carinho”, disse, ao lado de Janja. Na montagem, o meme “o pai tá on”, atribuído a ele, foi agora seguido de “a mãe tá on”, em alusão à noiva.
Palanque
Não à toa, Janja tem acompanhado Lula em palanques nos últimos meses, inclusive conquistando tempo no microfone ao lado de autoridades, não apenas em eventos do PT. Enquanto se diz “apaixonado” em diversos discursos, o petista também repete com frequência que está com “tesão” para mudar o País.
No lançamento da campanha petista em São Paulo no último dia 7, a socióloga apresentou o jingle da pré-campanha como um “presente de casamento”. A música “Sem Medo de Ser Feliz”, de Leonardo Leone, remonta o jingle da campanha petista de 1989, com o refrão “Lula Lá”, de Hilton Acioli.
A noiva de Lula cantou trechos da música no microfone, enquanto o clipe era exibido no telão. No Twitter, a socióloga disse que a regravação da música foi “mais que uma surpresa” para o petista.
A participação de Janja, entretanto, é vista com reticências por parte dos aliados. Para alguns petistas, a postura contrasta com as posições da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que preferia ficar fora dos holofotes. Marisa morreu em fevereiro de 2017, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Nos bastidores, aliados reconhecem que a noiva do ex-presidente traz certa jovialidade e virilidade para a imagem de Lula, mas não está definido qual a influência da socióloga na campanha.
O primeiro sinal de que Janja se envolveria na corrida eleitoral aconteceu em dezembro de 2021, quando ela apareceu ao lado do noivo em um jantar do grupo Prerrogativas em São Paulo. O evento marcou a primeira reunião pública do petista com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), depois que tiveram início as negociações para que o ex-tucano ocupasse a vice na chapa do petista.
Namoro
Janja começou a ganhar destaque quando foi à carceragem da Polícia Federal em Curitiba para receber Lula, que saía da prisão. O ano era 2019, e o petista havia revelado seis meses antes ao economista Luiz Carlos Bresser-Pereira que estava “apaixonado”.
À época, não deu muitos detalhes, exceto que se tratava de uma amiga dos tempos das caravanas da cidadania. Bresser-Pereira contou nas redes sociais sobre a visita ao petista: “(Lula) Está apaixonado e seu primeiro projeto ao sair da prisão é se casar”.
Na ocasião, o interesse pela “namorada do Lula” tomou conta das redes sociais. Mas foi só a primeira vez. Desde então, vídeos e fotos do casal fazem sucesso entre os apoiadores, como uma imagem de uma viagem de Janja e Lula à praia de Picos, a 200 km de Fortaleza, em que o ex-presidente aparecia de sunga.
O engajamento do relacionamento nas redes e a atuação de Janja em temas que correm ao lado da pré-campanha de Lula têm feito petistas concordarem que a sua participação pode contribuir na corrida eleitoral, apesar das reticências.
Ela mesma tomou o protagonismo em algumas ações vinculadas a temas sociais e de combate à desigualdade, compartilhadas em suas redes. No Twitter, a socióloga já tem mais seguidores que a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro. São 141,8 mil contra 101,6 mil da mulher do presidente Jair Bolsonaro.
Janja organizou, por exemplo, encontros do petista com mulheres para falar sobre os problemas do Brasil. Nas últimas pesquisas de intenção de voto, Lula sempre apareceu à frente de Bolsonaro entre o público feminino.
‘Petista de carteirinha’
A socióloga conhece o ex-presidente há décadas, mas o relacionamento dos dois começou em 2017, ano da morte de Marisa Letícia. Nascida no interior do Paraná e formada em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), ela é filiada ao Partido dos Trabalhadores desde 1983 e se descreve como uma “petista de carteirinha”. Nas redes sociais, costuma fazer declarações apaixonadas ao petista.
Janja participou ativamente da vigília realizada ao lado do local onde Lula esteve preso, em Curitiba, por 580 dias. Na época, ela já usava no Twitter o nome Janja “Lula”, como muitos fizeram em apoio ao ex-presidente.
A socióloga também trabalhou na Itaipu Binacional, no Paraná, em 2003. Na ocasião, já participava de atividades partidárias do então presidente. Ela também atuou na Eletrobras, no Rio de Janeiro, antes de retornar ao escritório da Itaipu em Curitiba e pedir demissão em 2019.
A primeira mulher de Lula foi Maria de Lourdes da Silva, com quem o ex-presidente ficou pouco mais de dois anos. Viúvo, ele se casou em 1974 com Marisa Letícia.