Luto

26/05/2019 12:00

Contra o tempo, o homem encontra os seus limites. Orgulho, ódio, vaidade, todas as mazelas que inflam as desigualdades, levando alguns a sentirem-se superiores, não resistem aos 7 palmos debaixo da terra: “és pó e ao pó voltarás” —  é o destino que impõe a sua força.

Quem se considera superior tende a naufragar em decepções quando se depara com a morte que reduz os viventes ao nada. A humildade ajuda na resignação e torna menos doída o corte da lâmina afiada da morte. Quem pretende desafiá-la deve amar sem medidas, porque o amor é que abre os caminhos da eternidade. Amar é um ato subversivo, porque sonha com o eterno. Essa sublime subversividade alimenta a perseverança, dar coragem a quem acredita na força do Bem, na construção de um mundo melhor. O triste é que o homem ainda se ata a coisas pequenas, a bens materiais tão perecíveis quanto à própria carne.

Nem complexo de vira-lata, nem arrogância pit bull. Ficar medindo músculos, mostrando o tamanho das patas para impor-se pela força física, pelo poder das armas, depõe contra a inteligência, contra a civilidade, contra a diplomacia.

 Há momentos em que o homem não difere dos outros animais, principalmente quando esquece que os vermes, “os operários das ruínas”, declaram guerra e só deixam “os cabelos na frialdade inorgânica da terra”, como descrevera Augusto dos Anjos.

O mundo está enfermo. Essa enfermidade tem suas raízes nas ações desumanas. Qualquer luta em defesa do meio ambiente perpassa pelo entendimento da natureza humana. Carl Jung afirmara: “nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que realmente existe é o próprio homem.” Dentro dessa linha de raciocínio, Albert Schweitzer dissera: “Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo.” 

A necessidade de “dominar-se” reflete o pensamento de Sócrates: “antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo.”

Diante dessas afirmativas, fica evidente que a mudança tão desejada no sentido de proteger o meio ambiente começa em cada um de nós. É imprescindível construir uma consciência fundamentada na responsabilidade social. Cada cidadão precisa dar a sua contribuição. O primeiro passo consiste em colocar, no lugar devido, o “saquinho de lixo” que produz no dia a dia. O triste é saber que alguns precisam reciclar a própria consciência para aprender a ter um pensamento voltado para a coletividade, para o bem comum.

A ganância é a ferrugem que tem deixado o nosso planeta em situações delicadas. Quando li, na semana passada, as notícias sobre os riscos de rompimento em mais uma mina da Vale em Barão de Cocais e  sobre a necessidade de esvaziamento da represa de uma fazenda em Bela Vista de Goiás, lembrei os seguintes versos de Fernando Pessoa:

 "Eu já disse, mas vou repetir:/ Não se represa um rio,/ Não se engana a natureza,/ Faça a represa o que quiser,/ Pois o rio cedo ou tarde vai arranjar um jeito de rasgar a terra,/ Abrir um caminho,/ E voltar a correr em seu leito de origem".

P.S.: Terça-feira, 28/05, com início às 18:00, a Academia Brasileira Ambientalista de Letras (Abal) promoverá uma palestra, no salão Nobre do Cefet/Petrópolis, que fica na rua do Imperador, 971. O tema será: “A Voz da Natureza em Prosa e Verso”. A proposta desse encontro consiste em refletir sobre a ação do homem em relação à natureza, tendo como referência as produções literárias. Tive a grata satisfação de ser convidado para coordenar esse encontro.

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