Luz e movimento, os caminhos da arte cinética de Sérvulo Esmeraldo

25/04/2023 08:05
Por Marcio Dolzan / Estadão

Sérvulo Esmeraldo é referência obrigatória na arte brasileira, mas o artista plástico nascido em Crato, no Ceará, nunca teve uma exposição que abrangesse todo o seu trabalho – pelo menos até agora. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, a exposição Sérvulo Esmeraldo – Linha e Luz traz obras que reúnem desde as gravuras do início da sua carreira até as esculturas que desafiam a gravidade e interagem com a luz. Em São Paulo, essa verdadeira retrospectiva da vida do artista será aberta ao público em agosto.

Sérvulo morreu em 2017, aos 88 anos, e suas últimas gravuras – uma homenagem a familiares queridos – também fazem parte da exposição. Ao todo, são 113 obras de diversas dimensões. O trabalho todo é precioso, mas são as esculturas em metal – além da sua fase no acrílico – que tornam a mostra única.

Trajetória

“Todo o trabalho do Sérvulo é calcado em dois elementos: na luz e no movimento”, explica Dodora Guimarães Esmeraldo, viúva do artista, que está à frente do Instituto Sérvulo Esmeraldo – museu que fica em Fortaleza e de onde veio a maioria das obras. “Ele teve uma trajetória bastante entrecortada, o que faz com que, no Brasil, muitos não conheçam o total da sua obra.”

O artista nasceu na cidade de Crato, no interior do Ceará, morou em Fortaleza, em São Paulo e em Paris. Viveu as últimas décadas em Fortaleza, cidade que tinha uma luz única e que destacava ainda mais o seu trabalho.

“Tem uma coisa muito interessante que ele dizia. Nas experiências em Fortaleza, em São Paulo e na França, ele aprendeu técnicas; mas ele trouxe a linguagem do Crato. Isso é muito forte e interessante, porque dá a segurança ao artista, do que ele gostaria de dizer ao público”, conta Dodora.

Cinetismo

Junto com Abraham Palatnik, Sérvulo Esmeraldo é um dos precursores do cinetismo brasileiro. Nascida na Europa, a arte cinética explora a ilusão de ótica para dar a sensação de movimento.

“Essa coisa do movimento, para mim, é o que torna o Sérvulo um artista diferenciado em relação aos outros escultores”, aponta Marcus de Lontra Costa que, junto com Dodora, faz a curadoria da exposição. “Todas as esculturas do Sérvulo, mesmo que elas não sejam evidentemente simétricas, têm sempre uma espécie de iminência do movimento.”

O uso – e, sobretudo, o estudo – da geometria é marcante. “O Sérvulo dizia que tinha a sorte de ter nascido em uma casa com livros, porque ele era um artista e pesquisador. As brincadeiras dele eram levadas a sério, porque eram muito calcadas nas pesquisas que fazia nos livros e aplicava na natureza”, ressalta Dodora.

Marcus cita uma das brincadeiras que, sabe-se, ajudaram a desenvolver a beleza do trabalho do artista. “No Crato, ele ficava brincando nas águas do açude, jogando pedrinhas, e via aquele movimento concêntrico e a forma como aquilo se ampliava”, exemplifica. “Acho muito legal essa noção do movimento que encontramos nas obras dele.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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