Mais de 800 mulheres foram vítimas de violência na cidade no ano passado
O Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro lançou ontem a mais nova edição do Dossiê Mulher, documento com mais de 80 páginas que contém todos os dados estatísticos do ano de 2015, referentes aos principais crimes sofridos pelas mulheres. O documento subdivide os delitos em categorias diferentes como lesão corporal dolosa, ameaça, estupro, tentativa de estupro, homicídio doloso, entre outros.
Esta é a 11ª edição do Dossiê, que desta vez traz uma novidade, apresentando os números de dois fenômenos silenciosos: assédio sexual e importunação ofensiva ao pudor, quando o meliante constrange a vítima e a ofende de alguma forma, importunando ao pudor.
Em Petrópolis, na 26ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp26), que abrange as 105ª e 106ª delegacias policiais, os dados mostram uma pequena redução nas estatísticas de diferentes crimes entre 2014 e 2015, mas revela o aumento de crimes violentos como homicídio e estupro. No ano de 2014, na 9ª edição do relatório, o ISP contabilizou 879 registros de lesão corporal somente em Petrópolis. Já no ano passado o número caiu para 811. Os crimes de violência psicológica, moral e patrimonial também caíram.
Em 2014 foram 823 registros de danos psicológicos, 582 morais e 65 atentados patrimoniais. Já no ano passado foram 798, 521 e 44, respectivamente.
No entanto, apesar da leve redução nesses crimes, os índices de violência aumentaram. Em 2014 Petrópolis teve 65 registros de violência sexual, sendo 60 estupros e 5 tentativas. Já em 2015 os números subiram para 82, sendo 73 estupros e 9 tentativas. Foram 17 registros a mais.
Nesta nova edição, o Dossiê começou a divulgar os dados dos crimes silenciosos. Em Petrópolis foram 25 registros de importunação ofensiva ao pudor e dois registros de assédio sexual.
Em todo o Estado do Rio de Janeiro, a média de vítimas mulheres cresceu 11% nas denúncias de assédio e 12% quanto à importunação ofensiva ao pudor.
A publicação também fornece um serviço à população ao informar os endereços e telefones das 14 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM) e 13 Núcleos de Atendimento à Mulher (NUAM) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) e dos organismos e serviços especializados de atendimento à mulher vítima de violência no estado do Rio de Janeiro.
De acordo com o Dossiê Mulher, os crimes de violência sexual são aqueles que, proporcionalmente, mais afetam as mulheres (85% das vítimas são mulheres). No ano passado, um total de 4.612 mulheres foram vitimizadas. São 4.128 vítimas de estupro e 484 vítimas de tentativa de estupro. Esses números representam uma redução de 12,6% e de 17,4%, respectivamente, se comparados aos dados de 2014. Pode-se afirmar que, no estado do Rio de Janeiro, uma mulher foi vítima de estupro ou tentativa de estupro a cada 2 horas em 2015. A violência sexual tem como vítimas preferenciais as jovens, em especial as crianças e as adolescentes: 45,1% delas tinham menos de 14 anos e 65% dos casos ocorreram dentro de alguma residência.
A publicação aponta que, no ano passado, 360 mulheres foram vítimas de homicídio doloso no estado do Rio de Janeiro e 16,7% dos casos desses homicídios eram resultados de violência doméstica ou familiar. Das autorias identificadas nesses homicídios, 15% foram atribuídos a companheiros e ex-companheiros das vítimas e 35% dos homicídios de mulheres ocorreram no interior da residência. Houve, praticamente, uma mulher assassinada por dia no estado.
Mais novidades
Para facilitar ainda mais o acesso à informação, o Instituto de Segurança Pública, este ano, lança também a versão do Dossiê Mulher na plataforma interativa Tableau. A ferramenta, de livre acesso ao público, disponibiliza, além das informações presentes no Dossiê, outros dados que não chegaram a ser analisados no relatório. A consulta poderá ser feita através do site do ISP.
Para ampliar a divulgação sobre as estatísticas das violências cometidas contra as mulheres, foi lançada a fanpage do Dossiê Mulher (https://www.facebook.com/dossiemulher). A página no Facebook também divulgará artigos, eventos e lançamento de outras publicações sobre o tema.
Perfil dos acusados
Outra novidade desta edição é a apresentação da análise sobre o perfil dos acusados, com relação ao grau de instrução, ocupação e faixa etária. Os dados divulgados pelo ISP mostram que a maior parte dos acusados de violência contra mulher, identificados no ano de 2015, tem de 25 a 34 anos e algum tipo de ocupação e renda, isto é, emprego fixo, muitas vezes de carteira assinada. Além disso, grande parte desses acusados de crimes violentos como estupro e tentativa de estupro, além do homicídio, tem baixa escolaridade. Já para os crimes de violência psicológica e constrangimento a maior parte dos acusados tem níveis satisfatórios de escolaridade, com ensino médio completo e até mesmo graduação.
Petrópolis ganha atendimento itinerante
Nesta semana Petrópolis recebe um ônibus que será usado pela equipe do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram – Tia Alice) que vai ajudar no atendimento e na assistência à mulher vítima de violência em Petrópolis. O Ônibus Lilás já chegou em Petrópolis, que passou a ser a segunda cidade do país a contar com o equipamento, que levará atendimento itinerante à mulher vítima de violência. O veículo foi apresentado durante solenidade no Calçadão do Cenip. O equipamento já está em funcionamento desde ontem e vai ficar estacionado na Rua do Imperador, nº 744 (em frente à agência do Banco do Brasil). “Esse ônibus vai fortalecer essa política no município. É um marco para a nossa cidade, que representa a esperança de uma nova vida para as mulheres que sofrem violência doméstica”, disse o prefeito Rubens Bomtempo.
Para a secretária Chefe de Gabinete e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Luciane Bomtempo, a aquisição do ônibus representa grande avanço na política de combate à violência contra a mulher. “Vamos atender a todas, do primeiro ao quinto distrito. Estaremos ao lado delas apoiando, atuando”, disse Luciane. Luciane também anunciou que o ônibus receberá o nome de Maria da Penha, lembrando Maria da Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. Ela se tornou símbolo da luta pelo fim da violência contra a mulher, tendo a Lei 11.340/06 recebido seu nome. A lei, em agosto, completa 10 anos.
O pioneirismo na luta contra a violência contra a mulher foi lembrando pela presidente da Fundação de Cultura e Turismo, Drica Madeira, que coordenou o Cram. “Petrópolis foi uma das primeiras cidades do país a implantar um Centro de Referência de Atendimento à Mulher e, agora, estamos na frente mais uma vez, sendo a segunda cidade do país a contar com o Ônibus Lilás”, lembrou.
O ônibus itinerante tem duas salas para atendimento com assistente social, banheiro e cozinha. Além disso, um toldo, que pode abrigar até 24 cadeiras, cria uma sala de espera no local onde o atendimento for realizado. O veículo do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher chegou a Petrópolis por meio de emenda parlamentar da deputada federal Jandira Feghali.