Mais um tiroteio no Alto Independência assusta moradores
As trocas de tiro estão tirando o sono dos moradores do bairro Alto Independência. Somente ontem foram registrados, pelo menos, dois tiroteios na localidade conhecida como “Cantão”. Essa foi a quarta vez que isso acontece em duas semanas. Por decisão da Secretaria Municipal de Educação, amanhã o Centro de Educação infantil – CEI Romano Canavese, não terá atividades.
Segundo a Polícia Militar, o local é alvo de disputa para venda de drogas e a briga envolve duas grandes facções do Rio de Janeiro. Quem mora na região já não aguenta mais o clima de tensão. “Estamos vivendo no fogo cruzado. Não aguentamos mais isso que está acontecendo aqui. As crianças estão sem estudar direito e as escolas estão até liberando os alunos mais cedo. Meus filhos foram dispensados da creche hoje porque tinha tiroteio de novo. Onde estamos vivendo? Não reconheço mais Petrópolis”, disse apavorado.
Os dois últimos tiroteios aconteceram na madrugada e na tarde de ontem. O primeiro deles foi por volta de meia-noite e meia. O pedreiro José Ribeiro Neto, de 57 anos, deu detalhes de como foi que tudo aconteceu. “Estávamos dormindo quando começamos a ouvir barulho. Parecia que estavam invadindo alguma casa, porque tinham pessoas gritando e logo depois veio uma explosão bem forte, parecendo uma granada. Aí subiu aquela fumaça e tudo começou. Nós deitamos no chão da casa (ele e a esposa) enquanto meus filhos estavam na casa deles, do outro lado da rua. Tudo durou cerca de quinze minutos, mas foi assustador. A sequência de tiros não parava e a gente ficava no chão deitado com medo de levar alguma bala perdida”, completou.
Uma moradora jovem, que preferiu não ser identificada, também passou por momentos de pânico. “A casa do lado da minha foi invadida por balas. Tem marcas na parede e até rachadura perto da porta, provocada por alguma bomba. Eu pensei que eles iam invadir minha casa e me matar. Nunca passei por isso, mas nos últimos dias isso tem piorado. Foram, pelo menos, quatro tiroteios nessas duas semanas, o que deixa a gente muito preocupado, sem saber para onde ir”, revelou.
Nas paredes das casas e dos comércios estão as marcas da guerra do tráfico de drogas que parece não ter fim. “Bem no meio do fogo cruzado tem uma creche. O nosso bairro já está ficando falado como um dos piores da região. Estamos muito perto do Rio e isso acaba nos prejudicando”, disse um morador.
Na tarde de ontem, por volta das 14h30, novos disparos começaram a ser efetuados. Um grupo de traficantes se concentra no alto do morro, em meio à mata fechada, onde há uma casa com uma espécie de quartel general. De lá, eles conseguem avistar todos que sobem ou descem do bairro. E esses ainda contam com a ajuda de olheiros que avisam quando a polícia está chegando. Do outro lado uma outra facção criminosa tenta subir para tomar conta das chamadas “bocas”, onde as drogas que vêm do Rio são comercializadas.
O local onde os bandidos ficam escondidos é de difícil acesso e tem várias saídas em meio ao matagal. Bem no meio do fogo cruzado fica o Centro de Educação Infantil – CEI – Romano Canavense, recém-reformado pela prefeitura, onde estudam dezenas de crianças. Entre os pontos mais perigosos, segundo os moradores, está a rua José Chaves.
Logo depois do segundo tiroteio, a Polícia Militar montou uma operação e entrou no bairro com, pelo menos, oito viaturas e vários policiais. “Recebemos alguns chamados e o último partiu de lá por volta de 15h. Reunimos nossa equipe e montamos uma operação. Isso que os moradores estão passando não pode acontecer sob hipótese alguma. Vamos permanecer no local em regime de 24 horas e não vamos dar paz. As nossas guarnições vão ficar por tempo indeterminado. A Polícia vai mostrar que tem uma presença forte e não vamos deixar isso acontecer!”, disse o comandante do 26º Batalhão, Eduardo Vaz Castelano.
Há duas semanas um carro e uma casa foram incendiados numa região próxima de onde houve o tiroteio. Segundo os moradores, a insegurança começou a fazer parte da rotina do bairro há cerca de dois meses.
A Polícia Militar informou que mobilizará grande parte do batalhão em operações constantes no bairro, não só para garantir a segurança dos moradores, como também para prender os bandidos que atuam na região, muitos deles oriundos do Rio, de Duque de Caxias e de outras cidades vizinhas da Baixada Fluminense.