Malta na rua
Um encontro na avenida de velhos conhecidos:
-Alô, como vai passando?
-Legal!
-Onde estava que não te vejo há algum tempo?
-Preso.
-Preso? Por que?
-Os meus negócios de sempre, você sabe…
-É. Qual foi a sua pena? Terminou?
-Não. Estou na rua pelo indulto de natal!
-É? Teve bom comportamento na cadeia?
-Fiz por onde e não volto mais para lá.
-Então terminou a pena?
-Terminou para mim. Vou sumir e ninguém mais me pega…
-E vai continuar com seus crimes?
-Por que, não? Sou profissional da lambança! Vida decente é para os trouxas, como você
-Tá bom. Respeito. Quem foi que te soltou?
-Um magistrado do Supremo, meu compadre, padrinho do meu filho Zeca. O Zeca você conhece, não?
-Sim. Onde anda o Zeca?
-Preso mas indultado para visita aos parentes no Natal.
-E quem soltou ele? Olha que os crimes do Zeca são de arrepiar a SS nazista.
-Quem soltou foi um outro desembargador. O Zeca é o homem da filha dele.
-Então vocês estão por cima, heim?
-Quem tem padrinho não morre na prisão!
-Novo conceito, perfeito para você. Bem, vou andando, foi bom encontrar um velho amigo de infância.
-Foi bom, sim e não vai se despedindo assim, não! Passa para cá seu dinheiro e vamos em alguns bancos limpar suas contas. O celular eu levo também.
-Pô, cara sou teu amigo… Assalta outro!
-Eu vou para o Paraguai empacotar umas muambas e preciso de dinheiro. O primeiro pato que encontrei foi você… Amigos, amigos, negócios à parte.
E os dois velhos amigos de infância fizeram a ronda dos bancos e a infeliz vítima foi largada numa rua de uma comunidade. Desapareceu, nunca mais foi vista.
O detento, de costas largas, sempre em cana, volta sempre e sempre para as ruas, beneficiado com todas as saídas temporárias e umas nem temporárias assim. Pelo menos enquanto tiver um compadre supremo em exercício.