Maré vermelha: entenda o motivo da proibição da venda de mexilhões e ostras em SP

13/ago 22:19
Por Milena Félix e José Maria Tomazela / Estadão

O governo de São Paulo detectou grande presença da alga tóxica Dinophysis acuminata, causadora do fenômeno conhecido como maré vermelha, nas cidades de Cananeia, Peruíbe, Itanhaém, Praia Grande e São Sebastião, no litoral do Estado.

Essas microalgas são tóxicas e podem contaminar moluscos que filtram a água do mar, como mexilhões, ostras e vieiras. Diante disso, o governo do Estado emitiu comunicado proibindo a venda até segunda ordem desses moluscos produzidos a partir de 30/07/2024.

Em nota, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) afirma que, nesta terça-feira, 13, e na quarta, 14, equipes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) farão coletas em fazendas marinhas no litoral. O objetivo é verificar se a presença das algas é maior que o recomendado.

A espécie de alga já havia sido identificada, em meados de julho em Santa Catarina e depois no Paraná – as algas têm feito um deslocamento pelo litoral do País.

Diarreia, dores abdominais e outros sintomas gastrointestinais estão associados ao contato com a alga. O governo de São Paulo esclarece, porém, que até o momento não há registros de contaminação humana.

“A Secretaria Estadual de Saúde orienta os municípios do litoral paulista quanto à importância da vigilância e notificação destes casos, mesmo que suspeitos, para acompanhamento”, informou em nota o governo de São Paulo. Em caso de contaminação, a doença pode causar sintomas gastrointestinais nas primeiras 24 horas, sendo recomendável buscar atendimento médico.

A Cetesb monitora o deslocamento da floração das microalgas por meio de coleta da água do mar. As amostras estão sendo analisadas e os resultados serão encaminhados às autoridades para que tomem as providências cabíveis. As secretarias de saúde e de meio ambiente das cidades com concentrações de microalgas já foram alertadas.

O que é maré vermelha?

O fenômeno da maré vermelha ocorre quando microalgas ou algas dinoflageladas se proliferam mais do que o normal pelo plâncton do oceano. Em seu processo metabólico, essas algas liberam toxinas que podem contaminar a água e os animais que se alimentam dela. Além disso, é possível que a água tome uma coloração diferente do habitual, como vermelho, amarelo e marrom.

Existem diversas algas que podem causar a maré vermelha, e nem todas são tóxicas. A bióloga e professora do Instituto de Biociências da USP Mariana Oliveira afirma, porém, que não é seguro entrar em contato com o mar durante esse fenômeno.

“Normalmente não é recomendado nadar num evento de maré vermelha, porque podem ter outros tipos de toxinas ou outros microorganismos que também estão ali, e ter, por exemplo, uma reação cutânea. Mas, o principal efeito é a contaminação de pescado e de outros organismos marinhos que a gente consome”, disse.

Quanto às causas da proliferação das algas, a especialista explica: “Uma das possíveis causas é a poluição orgânica. Uma quantidade maior de esgoto sendo liberado, ou de insumos agrícolas podem permitir que essas algas se alimentem e se dividam de uma forma muito mais rápida que o normal. A variação na temperatura da água do mar, quando se tem uma onda de calor, por exemplo, também pode favorecer.”

Quando o fenômeno da maré vermelha é instalado, Mariana afirma que não é possível interrompê-lo artificialmente, e que os esforços devem se concentrar no combate das causas e na mitigação da contaminação. “O que a gente pode fazer é tentar entender as causas, se existe alguma coisa que pode ser corrigida para o futuro. E é preciso ter um monitoramento, especialmente dos produtos costeiros, e verificar se os níveis de toxina estão baixos para poder liberar o consumo”, orienta ela.

A Secretaria do Meio Ambiente de São Sebastião informou que, em razão da detecção de proliferações da microalga na orla do município, o consumo de mexilhões cultivados na região deixa de ser recomendado até as próximas semanas. A coleta para novas análises será realizada nesta semana nas áreas de mitilicultura de Toque-Toque e Cigarras.

“Enquanto isso, pedimos à população que evite o consumo de mexilhões até que os resultados sejam divulgados. Maricultores locais já foram orientados a suspender a venda e a Vigilância Sanitária está fiscalizando os estabelecimentos”, informou, em nota.

Em Cananéia, alguns restaurantes já retiraram as ostras de seus cardápios. O município é o maior produtor do estado, entregando ao mercado, sobretudo na capital, mais de 200 mil dúzias de ostras por ano. A Cooperativa dos Produtores de Ostra da Cananéia (Cooperostra) informou que a maioria do molusco coletado no município é a chamada ostra de mangue, menos sujeita à contaminação por microalgas.

A prefeitura de Praia Grande informou que monitora o aparecimento de microalgas e até o momento nenhum caso suspeito de intoxicação humana relacionado a esta ocorrência foi registrado nas unidades de saúde da cidade. “A administração municipal reforça que intensificará esse monitoramento nos próximos dias e também seguirá em contato com a Cetesb.” Conforme a nota, nenhuma praia da cidade foi interditada devido ao fenômeno.

Litoral de Santa Catarina

Em julho deste ano, a maré -vermelha havia se espalhado pelo litoral de Santa Catarina, tendo sido avistadas concentrações até na região da Beira-Mar, no centro de Florianópolis. O Estado é grande produtor de ostras, mas o consumo não chegou a ser proibido. O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) alertou para os possíveis impactos ambientais e os cuidados com a saúde.

O fenômeno também foi observado em Balneário Camboriú. Especialistas relacionaram o aumento na proliferação de microalgas a uma combinação das chuvas no Rio Grande do Sul com as correntes oceaongráficas que levaram para Santa Catarina uma mistura de água doce com salgada. Análises feitas pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina encontraram também a Dinophysis acuminata entre as microalgas que proliferaram no litoral do estado.

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