Memória imediatista

16/06/2018 09:15

O primeiro degrau de uma carreira política é o de vereador – mas todos pisam sem saber como subi-la. A única coisa que aprendem é o que mais chute dão – nomear logradouros públicos. No Rio, o engenheiro Fernando Mac Dowell, de imediato ao seu falecimento, foi indicado para batizar a estrada Lagoa-Barra. Um imediatismo que não justifica a pressa, em vez de análise mais profunda – mesmo sem desmerece-lo, mas mais importante, para a cidade, seria homenagear o maior administrador após a ditadura Vargas – o governador Carlos Lacerda – a quem o povo carioca tanto deve, muito mais que a qualquer outro. 

Assim, quando vim morar em Petrópolis, em 1951, todos ainda se referiam à rua João Pessoa como rua Cruzeiro, o que demonstrava uma mudança recente. Voltei para o Rio e quando retornei  já haviam mudado para Dr. Nelson de Sá Earp. Sem desmerecer o homenageado, a Câmara não alcança o transtorno que tais mudanças provocam, principalmente, para as casas comerciais, que são obrigadas a mudar toda sua documentação em curto prazo de tempo como foi com a av. 15 de Novembro para rua do Imperador. O curioso neste caso é que um logradouro tenha sua condição rebaixada de avenida para rua – por que não Avenida do Imperador? Um resgate torto de recuperação  para homenagear o imperador mas permitiram a permanência da rua que leva o nome de seu algoz – Silva Jardim, numa demonstração de incompetência, falta de conhecimento e uma memória capenga e ignorante. Lá, sim, é que deveriam ter trocado para a homenagem e deixassem João Pessoa repousar em paz.

Para quem não sabe, o fanático Silva Jardim, se propôs, caso não saísse vitoriosa a república, de convocar seus seguidores a executarem a família imperial em praça pública – igualzinho aos totalitaristas de hoje. Mas, o certo mesmo é que naquele 15 de novembro, talvez, o Brasil tenha dado o primeiro tiro no pé – e não parou mais a errar o alvo. 

Outro detalhe como “mancada” de nossos vereadores é a pequenina praça que promete-se construir no início da rua Oscar Weinschenck que, parece, será batizada de Stefan Zweig, quando, como opinou, numa crônica, o professor Joaquim Eloy – mais adequado seria fazer um tributo ao vereador Calau – que merece – ou então, por seu espaço diminuto, a figura do petropolitano Peter Brian Medawar – Nobel de Medicina tão esquecido de seu grande feito, e onde poderia se colocar o memorial erguido em 2015, um banco e canteiros floridos – modesto mas significativo atrativo para conhecimento dos turistas. Portanto, duas sugestões, uma vez que Zweig já está bem homenageado. jrobertogullino@gmailcom


Últimas