“Moradores se sentem abandonados”, diz procuradora do MP em visita ao Morro dos Ferroviários

No local, onde 93 pessoas morreram e uma ainda é considerada desaparecida, cenário ainda é de destruição 

04/08/2022 08:20
Por João Vitor Brum

As vistorias técnicas do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) em comunidades afetadas pelas chuvas do início do ano foram retomadas nesta quarta-feira (3), com visitas à Chácara Flora, Sargento Boening e Servidão Frei Leão, no Morro dos Ferroviários. Em todos os locais, em especial na Frei Leão, onde pelo menos 93 vidas foram perdidas, o cenário encontrado foi de total destruição. A emoção tomou conta dos moradores das localidades, muitos deles estavam voltando pela primeira vez em meses, após perderem parentes, amigos e vizinhos. 

A procuradora de Justiça do MPRJ, Denise Tarin, que está à frente das visitas às comunidades, destacou que o sentimento dos moradores é de abandono e a principal necessidade é de respostas.

“Quando o Ministério Público se faz presente no local do desastre, se percebe que as comunidades afetadas, que as pessoas afetadas, precisam de respostas: quando as obras vão começar, o que será feito, quais recursos serão empregados? Estar aqui no Morro dos Ferroviários é realmente impactante. Você percebe os moradores muito sofridos, se sentem abandonados. (Aqui) foi o epicentro do desastre, com 54 casas destruídas, 93 mortos e o desaparecimento do jovem Lucas. (Isso) movimenta a comunidade a clamar por ações”, disse Denise Tarin durante a visita.

(Foto: João Vitor Brum)

O risco de novas ocorrências na região em decorrência do grande número de sedimentos foi uma das principais preocupações dos moradores, técnicos e da procuradora de Justiça, já que a estiagem termina em apenas dois meses. 

“Existe uma mina, que mesmo no período da seca, está ininterrupta, infiltrando. As pedras estão soltas, os escombros ainda estão aqui e existe sim um temor com as próximas chuvas de que todo esse material lenhoso, todo esse material, possa impactar ainda em outras casas, isso é um ponto primordial. Essa aqui é uma área de pedra, de água, de mina, e há águas subterrâneas – todas as casas tinham captação de águas subterrâneas”, continuou Tarin.

No ponto mais alto da Frei Leão, há uma grande quantidade de rochas com risco de rolamento e uma grande quantidade de água desce pelo local, passando por baixo dos escombros e podendo ser vista no acesso à servidão, em uma galeria aberta pelo desastre.

(Foto: João Vitor Brum)

O geógrafo da UFRJ, Manoel Couto, alertou os moradores que há risco de novos rolamentos no local, além de explicar como funcionavam os processos de recomposição da vegetação.

“Um grande exemplo da importância da vegetação é aquela árvore, lá no alto, que ficou de pé e segurou muitas pedras e sedimentos que vieram lá de cima. Mas agora, o risco de novos rolamentos existe e é grande, então não é viável que esse local seja habitado de novo”, explicou Manoel.

Moradora sugere criação de memorial após remoção de escombros

Em uma roda de conversa aberta no fim da visita ao Morro dos Ferroviários, a ex-moradora da Frei Leão, Cristiane Gosso da Silva, que perdeu nove parentes no desastre de fevereiro, sugeriu que um memorial fosse criado onde estão, atualmente, os escombros deixados pela chuva. O momento foi de emoção entre os presentes.

“Algo precisava ser feito aqui. Plantar flores, plantas, algo bonito, sem essas marcas que continuam até hoje aqui. É doloroso demais passar aqui todo dia e ter que ver isso, desse jeito, lembrando a gente de tudo o que aconteceu”, disse Cristiane.

(Foto: João Vitor Brum)

Um dos moradores presentes, que não se identificou, lembrou também que é preciso remover os escombros e demolir imóveis em risco logo para evitar que outras pessoas ocupem o local, começando um novo cenário de risco.

A procuradora do MP, em seguida, reforçou a importância de criar um espaço do tipo no local, para honrar a memória das vítimas.

“Estar hoje aqui foi pra todos nós muito difícil, as dores surgiram de todos os lados e eu penso que o Morro dos Ferroviários, como foi colocado aqui, deve ser um memorial, para que não haja o esquecimento da vulnerabilidade social no município de Petrópolis, especialmente no primeiro distrito”, destacou a procuradora. 

(Foto: João Vitor Brum)

“As pessoas têm consciência que era uma área condenada, não poderia ter nenhuma casa. Então estar aqui hoje perto desses seis meses de tragédia é também saber o que nós vamos fazer. Muitos moradores que estão precisando de ajuda psicológica, de saber o que vai ser feito, porque aqui precisa de uma estratégia habitacional, precisam ser feitas casas para essas pessoas em um local seguro”, concluiu a procuradora.

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