Moradores voltaram para casas interditadas no Sargento Boening e Chácara Flora

04/08/2022 17:46
Por João Vitor Brum

Uma das maiores preocupações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) desde as chuvas do início do ano já se concretizou na região da Chácara Flora e Sargento Boening. Em muitos locais, moradores voltaram, há meses, para imóveis interditados, e deixam as casas às pressas em qualquer sinal de chuva. O fato foi constatado pelo MPRJ em vistoria técnica realizada nas localidades nesta quarta-feira (3).

A procuradora de Justiça do MP, Denise Tarin, que convocou a visita, destacou que essas famílias não podem ficar nestes locais e precisam ter acesso a benefícios como o Aluguel Social.

“Essas famílias estão em risco, mesmo sem chuva, não se pode garantir a segurança. Um muro, uma obra sem o devido acompanhamento técnico, não é uma garantia e precisamos que as pessoas entendam isso e tenham acesso aos benefícios necessários”, disse Denise Tarin.

O primeiro bairro visitado nesta quarta foi o Chácara Flora, seguido pelo Sargento Boening e em servidões e vilas que ligam os dois bairros. Na Servidão Constantino Cardoso, na Rua São Geraldo, moradores retornaram às residências por não conseguirem imóveis no aluguel social e não terem para onde ir.

O seu Jorge José perdeu tudo no início do ano, mas conseguiu o benefício do aluguel, mas só conseguiu um imóvel de apenas um cômodo, do tipo kitnet, para viver com a mãe de 79 anos que, na chuva de março, ficou presa por mais de 12 horas na casa onde família vivia.

Jorge José de Oliveira (Foto: João Vitor Brum)

“Fiquei soterrado e perdi tudo na chuva de fevereiro. Fiquei soterrado, precisei ser internado e consegui sobreviver. Aí veio a chuva de março e minha mãe, de 79 anos, ficou presa em casa até o dia seguinte, até que alguém conseguiu socorrê-la. Morávamos em dois imóveis, eu, minha mãe e meu irmão em outro, mas perdemos tudo”, contou Jorge José de Oliveira. 

Já na Estrada do Paraíso, a casa da dona Guilhermina Trajano, que completa 90 anos na próxima sexta-feira (5), não estava interditada, mas a orientação era para fugir em caso de chuva. O terreno dela é cortado por uma rede de águas pluviais.

Guilhermina Trajano (Foto: João Vitor Brum)

“Eu moro aqui há 80 anos, nunca vi uma chuva assim. Entrou água, mas não saio daqui não, acho que não tem risco. Disseram que tem que fugir na chuva, e a gente vai fazendo o que pode. Ganhei geladeira nova, armário, vou aos poucos recuperar o que eu perdi”, disse. 

Na Rua dos Eucaliptos, que liga o BNH do Sargento Boening à Rua Carmem Ponte Marcolino e à Vila Vasconcelos, praticamente todas as famílias voltaram para suas respectivas casas ou iniciaram reformas por conta própria.

Uma mulher, que preferiu não se identificar, vive em um local interditado, com três imóveis independentes e três famílias, com 5 crianças no total, e diz que “em caso de chuva, leva tudo e só volta quando parar”, mas não tem medo de ficar no local mesmo com uma grande barreira no quintal da casa.

(Foto: João Vitor Brum)

As fake news e a falta de informações também afetaram o cadastramento dos moradores. Uma moradora da Chácara Flora alegou que não ficou sabendo do mutirão do Aluguel Social e outra disse que não se recadastrou pois disseram que “seria autorizada a demolição da casa se assinassem o aluguel”. 

Às pressas, Prefeitura realiza serviços em mais uma vistoria 

Depois de pintar corrimões às pressas na vistoria técnica convocada pelo MP na Vila Felipe, no mês passado (inclusive deixando latas de tinta e sujando moradores), a Prefeitura enviou equipes para a Rua dos Eucaliptos, onde famílias vivem em imóveis interditados há quase seis meses e um caminho com erosão é usado como passagem de pessoas e veículos.

(Foto: João Vitor Brum)

Os profissionais da Comdep estavam realizando a capina no local. Já os agentes da Assistência Social informaram que estavam realizando ação na localidade para saber porque os moradores retomaram aos imóveis interditados e se foram incluídos no Aluguel Social.

Isso acontece semanas após a Assistência assumir o compromisso de realizar ações nos bairros em reunião com o Ministério Público no dia 14 de julho. De acordo com os próprios agentes, esta foi a primeira visita à localidade.

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