Morre aos 67 anos, a bailarina e coreógrafa Stella de Mello

29/06/2022 17:07
Por Redação/ Tribuna de Petrópolis

Morreu nesta terça-feira, 28 de junho, aos 67 anos, a bailarina e coreógrafa petropolitana Stella de Mello. Ela estava internada no Hospital Alcides Carneiro e faleceu em decorrência de complicações de um câncer, contra o qual lutava há quase um ano. Stella dedicou sua vida à dança, foi uma importante encorajadora da cultura e arte na cidade de Petrópolis, onde desenvolveu diversos projetos. Seu corpo foi cremado no Rio de Janeiro, e segundo seu desejo, as cinzas foram despejadas nas águas da Praia do Canto, em Armação de Búzios. 

Dedicou a vida à arte 

Stella Cardoso de Mello começou a estudar ballet clássico em Petrópolis aos 5 anos de idade, mas foi no Rio de Janeiro que teve sua formação profissional. Aos 18 anos trabalhava como executiva do grupo Delfim em Ipanema, para custear seus estudos de ballet à noite, formando-se com importantes nomes do cenário da dança carioca e brasileira, como Eugênia Feodorova, Tatiana leskova, Dalal Achcar, Márcio Rongetti e Maria Olenewa.

Nos anos 90, alcançou o auge de sua carreira ao integrar a Companhia de Dança Victor Navarro. Junto ao bailarino e coreógrafo espanhol, desenvolveu o que viria a ser seu estilo único, inspirado na estética do flamenco e influenciado por grandes da dança moderna e contemporânea internacional, como Isadora Duncan, Pina Bausch, Maurice Béjart, Antonio Gades e inclusive Déborah Colker, tornando-se uma expoente do ballet neoclássico no estado. Após diversas turnês por todo Brasil, Stella foi convidada para ser co-diretora da companhia e escola de dança, formando uma geração de bailarinos e bailarinas que saíram de Petrópolis para o mundo.  

(Foto: Arquivo Pessoal)

 No princípio dos anos 2000, montou seu próprio estúdio de dança, o Ballet Stella de Mello, tocando e transformando a vida de muitos jovens e colegas na cidade através da arte. Ao longo de sua carreira como bailarina, e mais tarde, como mestre de dança, formou e colaborou com artistas que atuam em companhias na Espanha, Bélgica, Alemanha e Estados Unidos, como é o caso do petropolitano Vitor Luiz, Primeiro bailarino do ballet de São Francisco e ex-solista do Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

A bailarina era uma figura pública na cidade, desenvolveu diversos projetos de promoção da cultura e da dança. Dentre eles, se destaca a criação da Cia de Dança do Teatro Municipal de Petrópolis, com a colaboração de diretores dos mesmos espaços consagrados do Rio e de Niterói. Uma luta incessante que, infelizmente, não foi abraçada pelo poder público.

Stella de Mello deixa seis irmãos, um filho, sobrinhos, primos, assim como muitos amigos e discípulos que hoje dirigem suas próprias escolas de dança. Segundo os familiares mais íntimos, ela se foi com a mesma dignidade e serenidade que viveu. E segundo familiares, seguindo a tradição familiar, seu corpo foi cremado na Cidade do Rio de Janeiro e segundo sua paixão e desejo, suas cinzas foram despejadas nas águas calmas e belas da Praia do Canto em Armação de Búzios, à luz do luar e do firmamento límpido brilhante, onde foi se juntar a tantas outras belas Stelas, miríade de astros saudosos, num eterno brilho dançante.

Amigos de vida e da arte lamentaram a morte da bailarina e coreógrafa

Conheci a Stella de Melo numa aula de ballet na academia Movimento de Petrópolis em 1984. Sua figura diferente, especial, vestida de preto, chamou a minha atenção. Seu rosto moreno, exótico e belo me fascinou e compreendi que por trás de tudo aquilo existia uma artista verdadeira, tímida e ousada ao mesmo tempo. Num segundo encontro a convidei para fazer parte da Victor Navarro Companhia de Dança, com sede em Petrópolis. Seu crescimento junto ao elenco foi espetacular e meritoriamente começou a se destacar em papéis importantes nas minhas coreografias. Sem dúvida, Stella foi uma musa inspiradora para o meu trabalho naquela época.”

Victor Navarro Capell, bailarino e coreógrafo espanhol, ex-presidente do Conselho Internacional de Dança da UNESCO.

Stella entrou na minha vida com uma elegância rara, me escreveu as mais belas cartas e me fez construir, com sua ajuda, o homem que sou. Acho que ter uma mulher como Stella em nosso caminho é um presente imenso. Sua inteligência emanava de todo seu corpo mesmo na inclinação doce de seu rosto com um pudor de deusa. Seus silêncios deixavam a natureza dizer todas as notas que nenhuma palavra poderia substituir na sua presença.”

Cláudio Bernardo, Coreógrafo da Paracuru Companhia de Dança (Brasil) e da Cia As Palavras (Bélgica), e embaixador cultural do Brasil na Bélgica.

Aprendi com Stella de Mello a essência do movimento. Uma vida dedicada à dança e à formação de bailarinos de qualidade. Uma honra ter conhecido e partilhado momentos maravilhosos com ela. Agora a vida a levou para outra história. Vá na paz querida amiga. Na paz da missão cumprida. Amamos você.”

Neiva Voigt, Diretora da Movimento Art & Cia de Petrópolis

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