Morte de bebês no HAC chama atenção para a necessidade de mais investimentos na maternidade

08/07/2018 09:30

A morte de dois bebês na maternidade do Hospital Alcides Carneiro (HAC), durante o parto, serve de alerta para a necessidade de mais investimentos no setor. A unidade é a única a atender as gestantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de ser referência para o atendimento em casos de gestação de risco e alto risco. De janeiro a abril deste ano, foram feitos no hospital 1.102 partos, de acordo com dados da Prefeitura. Desse total, 10 bebês morreram durante ou após o parto. 

"Se tivessem feito o meu parto um dia antes minha filha estaria viva agora, nos meus braços", lamenta Maria Caroline Leandro Pereira, de 21 anos. A jovem perdeu a bebê no dia 30 durante uma cesariana de emergência. "Minha bebê tinha mais de quatro quilos e media 55 centímetros. Era saudável. Até agora não sei a causa da morte. No atestado de óbito não está especificado", relembra. 

A primeira entrada na maternidade aconteceu na terça-feira, dia 26. Com dores, a equipe médica a mandou para casa alegando que ainda não estava na hora do parto. Na sexta, dia 29, ela retornou dores mais intensas e perdendo líquido. "Neste dia deveriam ter feito o parto. A médica ainda brincou dizendo que eu poderia arrumar casa, lavar roupa, namorar", lembra Maria Caroline.

A jovem voltou para casa, mas teve que retornar ao hospital no dia seguinte. "Foi outro médioco que me atendeu e optou pela cesariana, mas foi tarde demais. Minha filha nasceu morta. Ela não está hoje nos meus braços por um erro. Foi negligência", acusa. 

As mortes do bebê de Maria Caroline e de outra criança viraram inquéritos policiais abertos na 105ª Delegacia de Polícia (DP), no Retiro. Também geraram abertura de investigação do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). As famíliasa ainda entraram com ações por danos morais contra o hospital. Além disso, a Defensoria Pública fez recomendações a Prefeitura, entre elas a contratação de leitos particulares para atender as gestantes.


Unidade passou por reforma recentemente 

Há dois anos, a maternidade passou por uma grande reforma. O setor, remodelado, foi entregue em 2016. O espaço foi ampliado, no entanto, as obras não terminaram e as intervenções no Centro Obstétrico não foram concluídas. Os partos são feitos, hoje, dentro do centro cirúrgico, em salas destinadas para o atendimento às gestantes. 

A reforma do Centro Obstétrico faz parte do programa Rede Cegonha, que prevê, entre outras ações, o incentivo ao parto normal humanizado, na perspectiva de fortalecer a atenção integral à saúde das mulheres e  assegurar às crianças o acompanhamento de seu desenvolvimento até os dois primeiros anos de vida.

Para avançar na melhoria do modelo de atenção ao parto e nascimento, a Rede Cegonha tem intensificado ações de qualificação de recursos humanos, ampliando a oferta de cursos . Essa medida é reconhecida internacionalmente como uma iniciativa estratégica à mudança do modelo de atenção. Nos dois últimos anos participaram desta iniciativa aproximadamente 4 mil profissionais.

Além de Centro Obstétrico, o programa também prevê cursos de boas práticas voltados à formação de enfermeiras e obstetras, incluindo residência, especialização e aprimoramento. Segundo o Ministério da Saúde (MS), essas medidas têm como objetivo que as enfermeiros e obstetras intensifiquem suas atuações na atenção ao parto e nascimento de risco habitual.

A Prefeitura informou que vem realizando os cursos e que, de janeiro a abril, a cidade já recebeu R$ 1 milhão do programa Rede Cegonha. A verba, segundo o município, cobre os atendimentos de pré-natal nas unidades, os partos e atendimentos a crianças de até dois anos.

Dentro do programa Rede Cegonha também há previsão para a implantação de uma Casa de Partos com capacidade para 10 leitos de atendimento de gestantes e realização de partos de baixa complexidade. Também há previsão de criação de um Banco de Leite. De acordo com a Prefeitura, a casa ficará em uma ala reformada dentro do hospital. A implantação será por meio de uma parceria público-privada. O programa Rede Cegonha também prevê a Casa da Gestante, Bebê e Puérpera, mas, segundo a Prefeitura, o projeto aguarda aprovação do Ministério da Saúde.


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