Moscou redesenha comércio com o mundo para driblar sanções do Ocidente
O Ocidente tentou isolar a economia da Rússia em retaliação à invasão da Ucrânia. Dois anos depois, as relações comerciais da Rússia com o mundo Rússia foram totalmente redesenhadas. Confrontado com sanções punitivas, o Kremlin cortou ligações de décadas com o Ocidente e aprofundou a dependência de Moscou na China e em outras nações simpatizantes. A mudança manteve vivas a indústria militar e a economia civil da Rússia no processo.
A yuanização da economia russa
O uso do yuan chinês pela Rússia ultrapassou o dólar americano nas suas exportações. Durante anos, Moscou tentou desdolarizar a sua economia, sem muito sucesso porque a maior parte do comércio global de mercadorias funciona com base no dólar americano. Mas as sanções ocidentais e as crescentes exportações de energia russas para a China aumentaram o apelo do yuan. Os pagamentos em yuan pelas exportações russas saltaram para cerca de um terço do total. Entretanto, as empresas russas contraem cada vez mais empréstimos em yuan, enquanto as famílias depositam poupanças nele.
Comércio de petróleo: descontos e frotas paralelas
Antes da guerra, o petróleo e o gás russos abasteciam as fábricas da Europa, aqueciam as suas casas e forneciam grande parte das receitas orçamentais de Moscou. A proibição da União Europeia (UE) da maior parte do petróleo russo e a decisão de Moscou de suspender a maior parte das suas exportações de gás para o bloco reorganizaram o mapa energético global.
Metade do petróleo e das exportações de petróleo da Rússia em 2023 foi para a China, disse Moscou. A Índia também emergiu como um grande comprador, uma vez que a Rússia foi forçada a oferecer o seu petróleo com desconto em relação aos preços globais devido ao limite de preço do G7. Moscou utilizou uma rede de petroleiros que não pertencem a países ocidentais nem são segurados por empresas ocidentais para contornar as sanções, com analistas estimando que mais de metade do petróleo russo transportado por mar é agora transportado com esta frota paralela.
A ‘rotatória euroasiática’
Proibida de adquirir muitos bens do Ocidente, incluindo produtos eletrônicos de consumo e tecnologias críticas, a Rússia encontrou uma rota através das ex-repúblicas soviéticas. Através do que veio a ser conhecido como a “rotatória euroasiática”, Moscou conseguiu adquirir tudo, desde bens com possível uso militar até máquinas de lavar roupa e carros de luxo ocidentais.
A Armênia é um exemplo disso: as exportações dos EUA e da UE para o país, que mantém ligações comerciais com a Rússia, aumentaram desde a invasão, incluindo o comércio de bens de dupla utilização que poderiam ter uso militar. Por sua vez, as exportações da Armênia para a Rússia também aumentaram numa magnitude semelhante.
A cadeia de abastecimento do campo de batalha
Apesar das sanções ocidentais, Moscou adquiriu um terço dos seus equipamentos de guerra de origem estrangeira a empresas sediadas nos EUA, na Europa ou nos seus aliados, de acordo com uma análise da Escola de Economia de Kiev. A maioria dos equipamentos encontrados no armamento russo acaba sendo de origem ocidental, segundo a análise.
As empresas russas têm utilizado uma intrincada cadeia de abastecimento através da qual chips de computador e outros itens de dupla utilização são concebidos no Ocidente, fabricados em locais como a China e as Filipinas, vendidos através de Hong Kong e enviados para a Rússia. Esses itens acabam então nos campos de batalha ucranianos em armamento russo, como o Tornado-S, um lançador de foguetes de lançamento múltiplo, e o Kinzhal, um míssil balístico hipersônico russo lançado do ar.
Turismo: Itália saiu, Dubai entrou
A guerra mudou as coisas para os consumidores russos. Marcas ocidentais como o McDonald’s foram remodeladas como marcas russas. As viagens ao exterior, que eram uma constante na vida da classe média nos anos anteriores à guerra, foram interrompidas. Mas embora os russos façam menos viagens ao estrangeiro do que antes da pandemia, continuam viajando e lotando as praias de locais como Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Tailândia. Fonte: Dow Jones Newswires.