Musk tem assumido embates da direita em outros países além do Brasil; saiba onde

19/ago 20:33
Por Guilherme Caetano / Estadão

O bilionário americano Elon Musk, dono da rede social X e que anunciou o fechamento de escritório da plataforma no Brasil no último fim de semana, tem se notabilizado pelos embates com a Justiça brasileira, mas as polêmicas se acumulam também em outros países pelo mundo.

Na manhã do último sábado, 17, a conta oficial do X publicou que encerraria suas operações no Brasil após Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ter “ameaçado nossa equipe no Brasil em vez de respeitar a lei ou o devido processo legal”. Musk compartilhou a nota, antes de comparar o ministro ao vilão Voldemort, da série Harry Potter. Não foi a primeira vez que o empresário fez a comparação contra o desafeto brasileiro.

Nos últimos anos, Musk tem se juntado a militantes da direita contra adversários em diversos países, em especial no país onde reside, os Estados Unidos. Na semana passada, o empresário fez uma entrevista pública, no espaço para conversas em áudio no X, de mais de duas horas com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, numa tentativa de ampliar seu alcance na corrida eleitoral. O encontro marcou o retorno de Trump à plataforma, da qual havia sido banido após a invasão do Capitólio.

Ao longo da conversa, marcada por elogios recíprocos, Trump repetiu a Musk frases já conhecidas de seu discurso de campanha, incluindo ataques a Joe Biden por permitir a guerra em Gaza e na Ucrânia e sua insistência de que os Estados Unidos eram melhores quando ele era presidente. Trump também atacou sua rival, Kamala Harris, e Biden pelas políticas de imigração que ele caracterizou como frouxas. Em julho, o bilionário foi criticado por compartilhar em sua própria plataforma um deepfake, vídeo manipulado com inteligência artificial, em que Harris insultava Biden.

Nesta semana, o eurodeputado Sandro Gozi, secretário do Partido Democrático Europeu, chamou a atenção ao afirmar que, “se Musk não cumprir as nossas leis, a União vai fechar o X na Europa”. Também escreveu que a “violência online sempre leva à violência offline”, que a “extrema direita esconde sua violência por trás da liberdade de expressão” e que as plataformas digitais devem moderar conteúdo de ódio.

Dias antes, Musk tinha insultado o membro da Comissão Europeia Thierry Breton que cobrou respeito do X à legislação europeia e, num outro contexto, foi criticado pelo governo britânico após afirmar que uma guerra civil seria “inevitável” no Reino Unido. Na ocasião, as autoridades estavam preocupadas com uma onda de violência contra imigrantes em razão de notícias falsas.

O primeiro-ministro Keir Starmer convocou uma reunião urgente após a ilegalidade que ele atribuiu à “bandidagem da extrema direita”, impulsionada em parte pela desinformação nas redes sociais, que despertou a raiva por causa de um ataque a faca em uma aula de dança que matou três meninas e feriu 10 pessoas. Falsos rumores espalhados online de que o suspeito era um muçulmano em busca de asilo levaram a ataques contra imigrantes e mesquitas.

“Não há justificativa para comentários como esse”, disse o porta-voz do governo a Musk em razão da publicação sobre a guerra civil. “Estamos falando de uma minoria de bandidos que não falam pelo Reino Unido.”

Em abril, Musk acusou a Austrália de censura depois que um juiz australiano determinou que sua plataforma deveria bloquear o acesso dos usuários de todo o mundo ao vídeo de um bispo sendo esfaqueado em uma igreja de Sydney. O primeiro-ministro Anthony Albanese chegou a chamar Musk, após a resistência em cumprir a determinação judicial, de um “bilionário arrogante” que se considerava acima da lei e estava fora de contato com o público.

No Brasil, Musk encontrou na figura de Alexandre de Moraes seu principal desafeto. No começo do ano, o bilionário explorou a divulgação do caso conhecido como “Twitter files” (arquivos do Twitter, em inglês) para atacar ministro. Tratava-se de uma suposta troca de e-mails entre funcionários da plataforma relatando pressão de autoridades brasileiras por dados sigilosos dos usuários da rede.

Na ocasião, o americano afirmou que Moraes deveria “renunciar ou sofrer um impeachment”, e que o ministro “traiu descaradamente e repetidamente a Constituição e a população do Brasil”. Suas publicações foram amplamente compartilhadas por apoiadores de Bolsonaro que criticam as investigações sobre a descredibilização do sistema eleitoral brasileiro e os atentados contra ademocracia, cuja relatoria está no STF com o próprio Moraes e que vêm mirando em aliados importantes do ex-presidente.

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