Na difícil espera
Enquanto aguardamos o pleito, vamos vendo perdurar, e não se sabe quando terão fim, as práticas patrimoniais e clientelistas que imperam no interior do nosso sistema político e nas instituições públicas, com a corrupção endêmica, associada ao mau trato do dinheiro público e ao completo descontrole das políticas governamentais. A dois meses da eleição, nenhum candidato dá sinais de que isto será revertido. Os discursos são vazios e repetitivos, e as alianças, como sempre, espúrias (coligações estas que só estão a acontecer em busca do precioso tempo de televisão e na espera futura de nacos do poder em órgãos que possam ser saqueados e usados como cabide de empregos para as militâncias).
Ninguém, em posse de sua consciência plena, pode prever o que vai acontecer em outubro. Se haverá novamente a polarização PT x PSDB, ou se Bolsonaro irá quebrar esta dobradinha, que se repete há mais de vinte anos. Haverá espaço para Marina e Ciro conseguirem chegar a um segundo turno? Estas incertezas estão a comandar o momento presente.
A mais importante lição que virá de outubro e que com certeza teremos, será a comprovação do manifesto desinteresse da população pela eleição e pela classe política. A meu ver, falta emoção, falta apelo aos candidatos, que não empolgam, e isto, mais e mais, desmotiva o eleitor. Mas não é só isto: os nomes são os mesmos que estão aí, por anos e anos, já que nenhum outsider conseguiu chegar às convenções. Não haverá mudanças, somente trocas de cadeiras; as práticas continuarão sendo as mesmas, independentemente de quem se eleja. A força do sistema é descomunal.
Analisando os discursos dos candidatos algumas assustadoras aberrações foram proferidas; por sorte, pouca atenção se dá a elas, até porque, pelo simples fato de serem estapafúrdias, crédito nenhum merecem. Neste caso, os campeões de bobagens são Ciro, Bolsonaro e Alckmin. Isto mostra que ideologias partidárias estão mortas e sepultadas. As inteligências de todos os candidatos e de seus marqueteiros tem se mostrado baldias. Alguém poderia levar a sério, afirmações como: “Não entendo mesmo de economia, vou para o posto Ipiranga perguntar para o Paulo Guedes”(Bolsonaro) ou “vou rever todas as concessões e reestatizá-las”(Ciro) e ainda “ vou encontrar um novo modelo para financiar os sindicalistas” (Alckmin) .
Uma verborragia inconsequente que mostra os poucos neurônios em autoconflito, cujas velhas práticas discursivas, repetidas à exaustão, nos levam à perplexidade e nos tiram todo e qualquer otimismo e esperança. O quadro que se desenha é dos mais sombrios possíveis. Aquela imagem pintada por Stefan Zweig do “Brasil: o País do futuro”, ficou na ficção e na lembrança do que poderia ter sido. Para os mais otimistas, esse próximo período será de transição para uma efetiva retomada de perspectivas e de crescimento em 2022; tudo ainda poderá piorar, a depender do vencedor desta eleição.