Na luta pela vida

09/05/2018 08:35

O berço em que nasceu, pais de origem humilde sem quaisquer condições de propiciar educação à filha única Maria.

A casa em que residiam, modesta, todavia composta de cômodos que propiciavam dignidade ao casal e à filha.

Maria, desde cedo, muito interessada em se matricular na rede escolar; entretanto a escola mais próxima da casa de seus pais, distava a dois quilômetros e assim mesmo o veículo que poderia transportá-la era uma velha carroça puxada por um animal quase já sem forças.

A filha, entretanto, já tendo atingido treze anos, às vésperas de completar sua data natalícia, continuava no intento de, pelo menos, aprender a ler e escrever.

As circunstâncias, contudo, não possibilitavam tal pretensão até porque Maria, em razão da dificuldade em que viviam seus pais, acabava por ter que ajudá-los nos afazeres da casa em especial a mãe, além do mais, cuidar da roça no tempo que lhe restava na companhia do pai, já combalido fisicamente.

Analfabeta aos treze e agora chegando aos sessenta anos de idade, na mesma situação. 

Maria, como frisei, desde criança demonstrara inteligência e muita perspicácia, mas isto não era tudo; a escola e os livros sim, completariam e fariam desenvolver os predicados que recebeu do Pai.

Já idosa, longe da cidade que lhe serviu de berço, vivendo atualmente a assistir uma família e pasmem, ainda que não sabendo ler e escrever, porém dotada de bons sentimentos desempenhando seus encargos com capacidade e presteza sem que nunca haja falhado sob qualquer pretexto junto aos empregadores.

As compras da casa feitas a tempo e hora e o troco sempre conferido, naturalmente à moda daquela pessoa que nunca pôde colocar os pés em qualquer escola.

Deus, todavia, proporciona a seus filhos certas dádivas muito pessoais; no caso de Maria, não lhe foi possível que tivesse acesso à escola, aliás, como muitos brasileiros, entretanto, quando indagada a tal respeito pela pessoa a quem acompanha, responde que o que aprendeu não foi na escola, mas no decorrer da vida e agradece a Deus por poder enxergar e conversar com a natureza, apreciar suas belezas e com isso já se contenta, até porque vive no âmago de uma família que lhe dispensa toda consideração, amizade e carinho.

Maria, exemplo de ser humano e resignação e por isso mesmo lhe dedico a trova que escreveu o poeta cearense Antônio Sales:

“Possui a pessoa tua / tantos primores e graças / que até as pedras da rua / se animam quanto tu passas”.


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