Na magia dos patins

22/01/2019 09:50

Fui um desportista? Este termo, muito do passado, designava aquele que era dedicado ao esporte, que amava o esporte, que vibrava com as competições.

Pois muito bem, fui efetivamente um desportista e sempre amei o esporte em quase todas as suas modalidades. Acompanhei o futebol, como torcedor, a partir da Copa do Mundo de 1950 quando o Brasil perdeu a decisiva partida, por 2×1, para o Uruguai, que achei uma grande injustiça. E, comigo, todo o mundo; a seleção brasileira era maravilhosa e reunia craques espantosos, de elevado nível, a maioria recrutada do elenco do Clube de Regatas Vasco da Gama, que se tornou o clube do meu coração.

Por aqui, na amada Petrópolis, meu olhar apaixonado recaia no hóquei sobre patins, praticado no Rink Marowil e na externa quadra arredondada do Hotel Quitandinha. Pensei em dedicar-me a ele, porém faltava o par de patins, que não podia adquirir por falta de condições financeiras. Dependente da família, era um adolescente de cabeça bem e bem infantil.

Eis que o destino resolveu intervir, positivamente, bem no meio do régio sonho, corporificando o cobiçado desejo de um par de patins, sem pagar um tostão, novinho em folha, na embalagem.

Explico: era leitor compulsivo de livros e de histórias em quadrinhos. Adquiria todos os meses a revista “O Herói”, editada por Adolpho Aizen, na sua Editora Brasil-América. A revista abrigava um concurso para os leitores, sob diversas modalidades. Resolvi concorrer; as tarefas estavam ao meu alcance e para todos os leitores, sem mistérios ou soluções complicadas. Os prêmios eram sorteados entre todos os concorrentes que resolviam as tarefas. E eram centenas deles. Em uma delas ganhei o 1º prêmio: um par de patins.

Um par de patins! Pronto! Foi afivelar o engenho em meus sapatos e correr para o Rink Marowil. E circulei; e rodopiei; e cai; e levantei; e fui rolando pela quadra com determinação e coragem. Tornei-me craque na patinação e pedi para jogar o hóquei. Aceito, participei de muitas partidas, sem muito talento para o jogo mas de firme patinação. Integrei-me de patins e alma ao Atlântico Hóquei Clube vivendo a glória do esporte junto aos grandes cultores, quase todos já de saudosa memória.

Eis que leio na “Tribuna de Petrópolis”, edição de 20 do corrente janeiro, matéria sob o título “Patinação contribui para tonificar os músculos”, bela e elucidativa pesquisa, constatando como eu estava certo ao me tornar um patinador.  A atividade mexe com tudo: a musculatura, a flexão do corpo, a atenção especial vigilante do entorno circulante, o aspecto psicológico do policiar percuciente do conjunto de praticantes em arriscadas evoluções e, como termina a matéria da Tribuna: “A sensação de liberdade e emoção gerada entre os patinadores”. Hoje, octogenário, não posso mais patinar. Se cair – inevitável – criarei um monturo de ossos deslocados e espalhados pela quadra, convite inevitável para volitar mais cedo nas esferas celestes.

Por final, fica o apelo, que já vem de muitos anos, aos poderes constituídos no Município, de restauração do Rink Marowil para a patinação, bem cultural-histórico da cidade que nos foi expugnado pelos insensíveis políticos e empresários, que não querem compreender a relevância da patinação para o nosso destino turístico. Assim como estão fazendo com as “vitórias”, romântico patrimônio de nosso melhor destino cultural e turístico.

Senhores, estudem, aprendam nossa história, sintam o turismo como futuro nosso, mantenham as tradições que tornam Petrópolis uma cidade verdadeiramente imperial sabendo bem explorar a magnitude de seu encantador passado.

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