Não se desespere
O pânico é alimentado pela overdose de informações. Em tempos de vida on line, muita gente virou sua própria OMS, contabilizando suspeitas, casos confirmados e óbitos. Há veículos de imprensa oferecendo boas orientações e esclarecimentos lúcidos. Mas há os sensacionalistas. Grudam pessoas à TV ou celulares, acompanhando minuto a minuto. Como americanos seguindo ao vivo, num frisson, a perseguição a O. J. Simpson. Dá audiência. O sujeito é famoso e tal. Pode ter efeito parecido, favorável ao ibope, noticiar que o Tom Hanks, o Pierre Trudeau, ou o Cristiano Ronaldo estão com o coronavírus, ou que Bolsonaro e esposa podem estar contaminados. Claro que, se notícias assim são concedidas, é útil saber que, como qualquer gripe, esta não poupa absolutamente ninguém de possíveis contágios. Mas economizemos exageros. São eles que levam ao desespero que aqui e ali se observa.
Vale mais insistir na propagação dos hábitos e comportamentos que ajudam a reduzir possibilidades de contaminação. Eu lembro, quando criança, de ver pessoas mais velhas que, quando gripadas, indo nos visitar, evitavam beijos, abraços e proximidade. Achava estranho, “coisa de velho”. Depois entendi que eram adultos bem educados por remanescentes da “gripe espanhola”, que tanto matou na primeira metade do século XX. Pois bem, é hora de voltar a essas saudáveis “coisas de velho”. E repetir alguns mantras. Água e sabão são a solução. Menos abraços; sorrisos, mais.
E lembrar boas novas. Existe enxurrada de pesquisas e reflexões científicas na forma de artigos e estudos, sobre o coronavírus, numa mobilização científica sem precedentes. Brasileiras sequenciaram em tempo recorde o genoma do vírus. O próprio vírus foi identificado em tempo recorde (sete dias, quando para a AIDS, por exemplo, foram necessários dois anos). Em diversas partes do mundo, há dezenas de medicamentos em preparo para enfrentamento dos sintomas da doença, inclusive mais de 80 estudos com antivirais. Há oito iniciativas científicas de desenvolvimento de vacinas. Algumas podem entrar em testes no mês que vem, o que as tornaria disponíveis já em 2021. Os cientistas informam que esse vírus, embora mais voraz, é menos letal, e 81% dos casos apresentam sintomas leves. Os casos de pessoas curadas já supera em 13 vezes o número de mortos, o que, infelizmente, não está sendo contabilizado com a mesma ânsia noticiosa. E os chineses informam que o coronavírus já desceu do ápice por lá.
No Brasil os números negativos certamente vão aumentar. As ondas geradas pela pedra no centro do lago chegarão até nós. Que as enfrentemos, com cautela, sabão e esclarecimento. Sem subestimar irresponsavelmente o inimigo, mas sem ceder a desesperos. A crise econômica decorrente de tudo isso preocupa muito. E o pânico pode piorar tudo. Pode levar, dentre outras mazelas, ao preconceito. É preciso achar o equilíbrio entre evitar a proximidade com sintomas e impedir atitudes de exclusão. É difícil, mas necessário, para preservar nossa humanidade.
Nessas horas, lembrar do Japão sempre faz bem. O grupo de ilhas sem recursos, sacudido de tsunamis, terremotos, bombas e acidentes nucleares. Continuam de pé. Aprenderam a lidar com a adversidade. Desenvolveram coragem e resiliência. A mesma que, noutros tempos, tiveram gerações que, aqui mesmo, sobreviveram às Guerras, à Depressão, a terríveis acidentes naturais. Que nos inspirem. E que cautela, sabão e esclarecimento nos comandem.
denilsoncdearaujo.blogspot.com