Narges Mohammadi, símbolo da luta feminista no Irã, ganha Nobel da paz

07/10/2023 06:57
Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

Narges Mohammadi, uma ativista iraniana que cumpre pena de 10 anos, foi laureada nesta sexta-feira, 6, com o Nobel da Paz de 2023 “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e para promover os direitos humanos e a liberdade”.

O anúncio feito pelo Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo, surge depois de protestos liderados por mulheres no Irã que desestabilizaram o país após a morte, sob custódia policial, da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, que tinha sido detida pela polícia moral. Mais de 500 pessoas foram mortas na repressão do regime islâmico, incluindo 44 menores. Cerca de 20 mil iranianos foram presos, calculou as Nações Unidas.

“O prêmio da paz deste ano também reconhece as centenas de milhares de pessoas que, no ano anterior, se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime teocrático do Irã contra as mulheres”, afirmou o comitê. “O lema adotado pelos manifestantes – ‘Mulher, Vida, Liberdade’ – expressa adequadamente a dedicação e o trabalho de Narges Mohammadi.”

Mohammadi, de 51 anos, denunciou abusos no Irã e organizou protestos e outras formas de desobediência civil. Sua página no Instagram trazia uma mensagem de gratidão após a notícia, mas acrescentou que era impossível falar com ela no dia em que o prêmio foi anunciado.

“Como você deve saber, é impossível fazer um telefonema para a prisão de Evin para presos políticos da ala feminina às sextas-feiras”, dizia o post. “Por isso, temos de esperar até amanhã (hoje) para conversar com Narges e dar a ela as boas notícias.”

Histórico

Ela é a 19ª mulher a ganhar o Nobel da Paz e a segunda iraniana, depois que a ativista de direitos humanos Shirin Ebadi foi laureada em 2003. Mohammadi é vice-diretora do banido Centro de Defesa dos Direitos Humanos, uma ONG com sede em Teerã, da qual Ebadi é a presidente.

Nos últimos 30 anos, o governo do Irã penalizou Mohammadi repetidamente pelo seu ativismo, privando-a de sua carreira como engenheira, de tempo com a família e de sua liberdade.

A última vez em que Mohammadi ouviu as vozes de seus gêmeos de 16 anos, Ali e Kiana, foi há mais de um ano. A última vez que ela os abraçou foi há oito anos. Seu marido, Taghi Rahmani, de 63 anos, também escritor e ativista que ficou preso por 14 anos no Irã, vive exilado na França com os gêmeos.

Em 2011, ela foi presa pela primeira vez por seus esforços para ajudar ativistas encarcerados e suas famílias. Acusada de “espalhar propaganda”, ela cumpre pena na temida prisão de Evin, em Teerã. Lá, ela trabalha para se opor às condições infligidas a ela e a outras presidiárias, especificamente o uso de tortura e confinamento solitário.

Em um comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã condenou a decisão do comitê, chamando-a de “um movimento político alinhado com as políticas intervencionistas e anti-iranianas de alguns governos europeus”.

Críticas

O Irã responde frequentemente às críticas ao seu histórico de direitos humanos, acusando as autoridades europeias e americanas de usarem preocupações tendenciosas com as mulheres para promoverem políticas intervencionistas. EUA e ONU pediram ontem a libertação da ativista.

Embora os protestos tenham se reduzido nos últimos meses, as questões de fundo não se resolveram, com relatos de que outra jovem entrou em conflito com as autoridades, na semana passada, por não usar o véu islâmico adequadamente – e acabou em coma. Armita Garavand tem apenas 16 anos e foi internada no dia 1º. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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