Nas Asas de Santos Dumont

30/10/2021 08:00
Por Antônio Augusto Gomes

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”

( Casimiro de Abreu.)

Em 23 de outubro comemora-se, no Brasil, o dia do aviador.  Nesta data, pela primeira vez a genialidade de um brasileiro, deu asas ao homem. O nosso inventor maior, Santos Dumont, voou pela primeira vez em um aparelho mais pesado que o ar ao decolar e pousar por seus próprios meios, ante a um público parisiense que assistia estupefato. Foi em 23 de outubro de 1906 que Alberto Santos Dumont realizou essa façanha pilotando o aeroplano que chamou de 14 bis, inventado e construído por ele.

Em 1936 os sobrinhos e herdeiros de Santos  Dumont doaram ao Município a casa  de veraneio desse genial brasileiro denominada muito propriamente de “Encantada” e uma casa nos fundos, com a condição que fosse instalada ali uma instituição para perpetuar a memória de santos Dumont. Nesse prédio dos fundos, a Prefeitura instalou a Escola Santos Dumont  e em 1943, foi inaugurado o museu, na casa da frente. Eu tive o privilégio de estudar naquela escolinha todo meu curso primário.  O acanhado das instalações não dizia da qualidade do ensino lá ministrado, era, de longe, a melhor escola do município. As instalações da Escola se compunham de uma ampla sala de aulas que ocupava toda parte da frente da instalação ao fundo havia uma outra sala onde ficava  um único banheiro, alguns armários e uma estante com os livros de leitura formando um arremedo de biblioteca.  Uma pequena varanda do lado externo, dava para o pátio onde  os alunos brincavam durante o recreio e  realizavam atividades lúdicas, quando programadas. Pela manhã, pontificava Dona Ruth, professora da terceira e quarta série e à tarde Dona Acir ensinava as primeiras letras aos alunos e ao mesmo tempo em que ministrava outros conteúdos para a primeira e segunda série. Que mulheres gigantes, na arte de ensinar! No fim do ano, a Prefeitura aplicava uma prova a todos os alunos do Município para aferir os conhecimentos e promovê-los para a série seguinte. A minha Escola invariavelmente aprovava todos os alunos que ocupavam os primeiros lugares. Eu até hoje fico intrigado com tamanho sucesso. Muitos diziam que era a mão protetora de Santos Dumont.

Quantas saudades quando me lembro do 23 de outubro, dia do aviador!  Na semana que antecedia a data, a Escola era só festa. Ensaiávamos poesias a serem declamadas no grande dia, os hinos do Brasil, da Aeronáutica e treinávamos um discurso   a ser lido na presença das autoridades do Município junto a estátua de Santos Dumont, localizada na rua à frente da “Encantada”. Esse discurso era lido pelo melhor aluno da quarta série e tive a honra de lê-lo no meu último ano na Escola.

Anos mais tarde já na Aeronáutica, ficava todo prosa quando desfilava em uniforme de gala no dia do aviador. Me tornei engenheiro mecânico para seguir as pegadas do maior inventor brasileiro e hoje navego nas asas da literatura, o que me propicia altos voos pela fantasia.

Antônio Augusto Gomes é escritor e integrante da Academia Petropolitana de Letras.

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