Nas ruas, movimento em tempo de isolamento aumenta preocupação de quem espera pela retomada econômica

De um lado, quem conta nos dedos o dia em que poderá reabrir as portas de seu negócio para garantir o sustento não só de sua família, mas das famílias dos funcionários. Do outro, os especialistas, que acompanham diariamente os números preocupantes que apontam a disseminação do coronavírus no município. nas redes sociais, é como se fosse possível separar os dois grupos. Mas não é. Hoje o governo municipal enfrenta pressão de todos os lados para resolver a questão. Montou um plano inicial de retomada das atividades com base, segundo o próprio governo, em critérios técnicos, mas, já na primeira semana, recuou e aumentou o intervalo entre a liberação do que chamou de “ondas”, nas quais foram inseridos os diferentes segmentos econômicos. Sem segurança em relação ao futuro, muita gente, que no início da pandemia achou que poderia manter o seu negócio, já dispensou funcionários e enxugou as despesas, mas, ainda assim, não sabe mais o que fazer com as contas, que não param de chegar. 

Dono de uma pousada em Itaipava, Rogério Elmor diz que o que mais chama atenção é o fato de o isolamento não existir de fato. “Não sou contra o isolamento, mas acho que, se é para fazer, tem que funcionar. Decreta o lockdown e para tudo, de verdade, por 10 ou 15 dias. Assim a ação de proteção à saúde seria eficaz e haveria perspectiva para retomada da economia. Só não concordo com o que vejo hoje. Estou parado mas, quando preciso sair, vejo tudo funcionando normalmente. Tem aquele que já pode funcionar e aquele que ainda não, mas que está abrindo porque precisa sobreviver. Na verdade, a questão é que, se um pode, porque o restante não pode? O isolamento não está sendo feito como deveria e é por isso que o vírus continua circulando. A disseminação continua, apesar das portas fechadas dos estabelecimentos que cumprem as determinações. Então de que adianta? De que vale esse sacrifício?”, lamentou, defendendo a definição clara de datas para o retorno das atividades, com a adoção de todos os cuidados para preservar a saúde da população. “Já são quase 80 dias e hoje estamos no escuro. Não temos como planejar nada porque não sabemos quando poderemos funcionar de forma plena, sob alegação da necessidade de isolamento. Mas que isolamento?”, criticou.

O que o empresário diz vem sendo visto nos quatro cantos da cidade: o vai e vem de carros chega a provocar engarrafamento e, nas calçadas, em alguns momentos é preciso dar aquela paradinha para evitar o contato direto com outras pessoas. E, apesar dos apelos das autoridades, a obrigatoriedade do uso de máscaras não é acatada por todo mundo. Muita gente parece não se preocupar com o coronavírus e leva a família toda, incluindo crianças, para a rua, sem a proteção. 

A opinião de Rogério é semelhante à de muitos comerciantes. Gerente de uma loja de roupas na rua Teresa, M.C.L diz que os apelos pelo isolamento não surtiram o efeito desejado. “As pessoas estão nas ruas. Em alguns momentos, se não fossem as portas dos estabelecimentos fechadas, eu diria que é um dia normal. Então de que adianta penalizar o comércio? É, preciso sim, cobrar os cuidados necessários, como o uso de máscaras, mas não dá mais para manter tudo fechado”, frisou ela, que pediu para não ser identificada.

A consultora Juliana Freitas reconhece a dificuldade de solucionar a questão. “A verdade é que, até que surja uma vacina, não haverá como garantir a segurança de todos. Teremos que aprender a conviver com esse novo vírus, adotando cuidados que não tínhamos antes. Acho que as máscaras serão acessório obrigatório daqui para frente e as pessoas precisam levar isso a sério. Os estabelecimentos também terão que se adaptar, limitando o número de pessoas simultaneamente dentro das lojas. Todo mundo terá que ter álcool gel à disposição e o ideal é que as pessoas passem a circular menos nas ruas. Será necessário organizar melhor o nosso dia, aproveitar melhor o nosso tempo. Não tem como manter tudo fechado eternamente, então a solução é sensibilizar as pessoas”, opinou.

A Prefeitura diz que seguirá o Plano de Retomada das Atividades, que prevê a reabertura de atividades incluídas na chamada linha amarela no dia 15 de junho (comércio ambulante; agência de publicidade; lojas de vestuário, acessórios, calçados e afins; comércio de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos; imobiliária; lojas de equipamentos de informática; escritório de contabilidade, advocacia e congêneres; joalheria e relojoaria; agência de turismo; estúdio de pilates/massagem e fisioterapia (com atendimento individualizado) e  salão de beleza e barbearia). Há, no entanto, várias outras atividades ainda sem previsão de funcionamento. É o caso de restaurantes, lanchonetes, bares, shoppings, academias de ginástica, comércio em geral e serviços de hospedagem. Estes últimos, embora não estejam proibidos de funcionar, não têm movimento, já que as barreiras sanitárias impedem a entrada de pessoas de fora do município, mesmo que estejam em boas condições de saúde. 

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