Nicarágua prende mais um padre católico crítico da ditadura de Daniel Ortega

12/07/2023 11:48
Por Felipe Frazão / Estadão

A Nicarágua prendeu mais um padre católico crítico à ditadura de Daniel Ortega, em novo episódio de repressão contra a Igreja Católica no país. A prisão de Fernando Zamara ocorreu no último domingo, 9, na capital do país, Manágua, depois de uma missa.

As autoridades do país não se manifestaram para explicar a prisão do líder religioso e seu paradeiro é desconhecido. O país prendeu pelo menos quatro sacerdotes e outros sete foram expulsos do país.

De acordo com dados do jornal nicaraguense El Confidencial, pelo menos 84 religiosos tiveram que deixar o país desde 2018.

Rolando Alvarez

Na semana passada, o bispo nicaraguense Rolando Álvarez, condenado a mais de 26 anos de prisão por “traição contra a pátria”, foi libertado por algumas horas pela ditadura de Daniel Ortega, mas voltou à prisão depois de rejeitar deixar o país.

Álvarez também teve sua cidadania cassada e foi transferido da prisão domiciliar para o presídio. Além disso, Ortega declarou interrompidas as relações bilaterais com o Vaticano e descreveu a Igreja Católica como uma “máfia”.

Sua libertação, segundo a fonte, se deu graças a negociações entre o governo da Nicarágua, o Vaticano e o Episcopado. Após as partes discutirem destino do líder eclesiástico, sua recusa em deixar o país fez com que o regime o mandasse de volta ao cárcere.

Lula

A tentativa de libertação do bispo Rolando Alvarez pelo regime sandinista ocorreu antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concretizar a prometida gestão diplomática junto ao ditador nicaraguense, para que o religioso fosse liberado. Lula pretendia telefonar a Daniel Ortega, mas a ligação não chegou a acontecer, segundo o Palácio do Planalto.

­Houve, no entanto, pressão política pública de Lula e do Vaticano. Como o Estadão revelou, a prisão do clérigo e a repressão aos demais representantes da Igreja Católica pelo regime entrou na pauta da audiência de Lula com o papa Francisco, no dia 21 de junho, no Vaticano.

A pedido do papa, Lula prometeu interceder junto a Ortega, e disse que ele deveria reconhecer que errou e pedir desculpas. Segundo o petista, não havia nenhuma razão para que o bispo de Matagalpa permanecesse preso, acusado de traição, sem poder desenvolver as atividades pastorais ou sair do país e regressar ao Vaticano.

“Estive com o papa Francisco agora e assumi o compromisso de falar com o Daniel Ortega na próxima semana a respeito da disputa com setores da Igreja. Naquilo que a gente puder contribuir, quem tiver relação, temos que conversar. O que não pode é isolar e levar em conta que os defeitos estão apenas de um lado”, disse Lula.

Últimas