Nó em pingo d’água

20/05/2018 08:00

A disputa pela água já faz parte, a bastante tempo, do cenário mundial. Há uma longa história de disputas relacionadas à água, de conflitos sobre o acesso a recursos hídricos e ataques intencionais a sistemas de abastecimento durante guerras. A água e os sistemas de abastecimento de água foram as raízes e instrumentos de guerra. O acesso a recursos hídricos compartilhados já foi cortado por razões políticas e militares. Fontes de abastecimento de água têm estado entre as metas de expansionismo militar e as desigualdades no uso da água têm sido a fonte dos atritos e tensões regionais e internacionais. Esses conflitos continuarão e em alguns locais se tornarão mais intensos, à medida que populações crescentes demandam mais água para o desenvolvimento agrícola, industrial e econômico.

 Outros cientistas apontaram para a probabilidade de aumento dos conflitos ligados a recursos hídricos compartilhados. Entre eles, o ex–vice–presidente do Banco Mundial,  Ismaíl Serageldín, que, em 1995, afirmou: “Se as guerras deste século foram travadas pelo petróleo, as do próximo serão travadas pela água”. Por todas as regiões do mundo a lógica parece ser a mesma: a disputa não é só pela água em si, mas pelo “controle de suas nascentes”. Além da disputa pelo controle de nascentes de grandes rios interterritoriais, a previsão para o decorrer do século XXI é a emergência de conflitos que também se associem a ações imperialistas, em que países passem a invadir ou controlar politicamente outros territórios em busca da obtenção de água ou a sua importação a um menor custo. Por esse motivo, é preciso pensar em saídas para evitar uma escassez ainda maior desse recurso, com medidas que visem à sua sustentabilidade.

Conforme dito anteriormente com base em fontes do Banco Mundial, também de acordo com o quinto relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas(IPCC), considerando um cenário com uma população mundial 7% maior do que a de hoje, para cada aumento de um grau na temperatura, haverá 20% menos disponibilidade de água, algo que deve preocupar cada vez mais a sociedade internacional. O Brasil não escapa desse contexto, e a face mais evidente das limitações na capacidade de gestão do sistema hídrico é a crise de abastecimento sem precedentes que castiga o maior centro econômico do País, a Região Metropolitana de São Paulo, amplamente noticiada pela mídia. De acordo com o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2013, entre 2006 e 2010, houve um aumento de cerca de 29% da retirada total de água do País. O uso para irrigação foi o que mais cresceu: 72% do total consumido.

 O cenário brasileiro, antes de abundância  de recursos hídricos, está mudando em ritmo acelerado, em resposta, no nosso entender, da adoção de uma política inadequada de muita ênfase à gestão da oferta de água, isto é, execução de obras que possibilitem um  abastecimento maior em contraposição ao pouco que tem sido feito no campo da gestão da demanda, que passa necessariamente pela adoção de práticas de uso sustentável ou racional da água. Entram aí, a diminuição de perdas físicas, como vazamentos e evaporação, a redução do desperdício, a educação ambiental da população, a captação da água da chuva e o incentivo ao reuso da água. Quando coordenei, no Inmetro, o Programa de Gestão Ambiental, várias medidas foram adotadas para contenção do desperdício dentro do Programa “O Inmetro faz a sua parte”. Também, foram dadas aulas de Educação Ambiental para colégios dos municípios vizinhos.  Em Petrópolis poderíamos “lançar” o Programa “Petrópolis faz a sua parte”, em benefício da nossa cidade e como exemplo e ideia para outros municípios. 

achugueney@gmail.com

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