Nó em pingo d’água II

28/05/2018 12:50

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou na segunda-feira (19) o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, durante a abertura oficial do Fórum Mundial da Água, em Brasília. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza (SbN), que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo. O documento mostra que apesar da disseminação das tecnologias que envolvem a conservação ou a reabilitação de ecossistemas naturais, esses processos correspondem a menos de 1% do investimento total em infra-estrutura para a gestão dos recursos hídricos.

 O relatório da Unesco ressalta que abordagens tradicionais (cinzas) não permitem que a segurança hídrica sustentável seja alcançada. Já as soluções verdes trabalham diretamente com a natureza, não contra ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens tradicionais, de modo a aumentar os ganhos em eficiência social, econômica e hidrológica no que diz respeito à gestão da água. Entre os exemplos dados pela publicação está a ampliação de banheiros secos, aqueles que evitam o lançamento de dejetos em tubulações ligadas a centros de tratamento de água ou em rios. Esse tipo de banheiro também permite a produção de composto orgânico ao final do processo. 

Em uma proposta de solução mais ampla, o relatório apresenta a experiência das cidades-esponjas, na China, em que construções absorvem água da chuva de forma rápida e segura. De acordo com o relatório, as soluções baseadas na natureza apóiam a “economia circular”, aquela considerada restauradora e regenerativa, que busca reduzir os desperdícios e evitar a poluição, inclusive por meio do reuso e da reciclagem. 

O relatório diz, também, que a demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento populacional, ao desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas décadas.

 Atualmente, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) vivem em áreas que apresentam potencial escassez de água de, pelo menos, um mês por ano. A expectativa, segundo a publicação, é de que essa população poderá aumentar para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050. Atualmente, o mundo todo tem presenciado os riscos de desastres relacionados à água, como inundações e secas associadas a uma crescente mudança temporária de recursos hídricos em virtude de alterações climáticas. Segundo o relatório, cerca de 30% da população mundial vive em áreas e regiões afetadas rotineiramente por inundações e secas. Em algumas situações, as abordagens baseadas na natureza podem oferecer a principal ou única solução viável, em contra posição a infra-estrutura cinza (construída/física).

 A degradação dos ecossistemas é a principal causa dos crescentes riscos e eventos extremos relacionados à água e, além disso, ela reduz a capacidade de aproveitar plenamente o potencial das soluções baseadas na natureza. Para a Unesco, a infra-estrutura verde é capaz de desempenhar importantes funções relacionadas à redução de riscos. A combinação de abordagens de infra-estrutura verde e cinza pode levar à redução de custos e a uma redução geral dos riscos. Em Petrópolis, onde esses riscos são comuns, a utilização  das SbN, nos planejamentos, devem nortear suas ações administrativas. 

achugueney@gmail.com

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