No país do consignado

30/10/2017 08:45


O Brasil tem 31 milhões de brasileiros recebendo benefícios do INSS.

– 4,1 milhões recebem benefícios assistenciais, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a Renda Mensal Vitalícia, na base de um salário mínimo;

– 9,9 milhões são beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, rurais que também recebem um salário mínimo. Contribuíram pouco ou nada para o INSS, advindos do FUNRURAL;

– 10 milhões são beneficiários do RGPS, urbanos que recebem um salário mínimo. Sempre contribuíram para o INSS.

Seria de se supor que não houvesse quem quisesse emprestar dinheiro a quem recebe um salário mínimo, mas tem quem quer. Banco não vende produto, mas vende dinheiro.

Mesmo por que, em tese, o brasileiro do salário mínimo tem possibilidade de pegar até nove empréstimos consignados de R$ 30 cada, pois sua margem consignável continua limitada a 35% da renda disponível. 

Acenar para os pobres que eles podem ter nove dívidas é um sonho de consumo, uma agressão a pobreza e uma performance capitalista. Como se vai pagar, só Deus sabe.

O dramático nesta história é que foi com a ajuda do PT que o Consignado foi institucionalizado para induzir de um lado o aposentado e o pensionista do INSS a se endividar, como “capitalista” e de outro aumentar os ganhos dos bancos.

É o que fazem diuturnamente.

Pelas características do mercado – pobres se endividando até a raiz dos cabelos, não só para comprar comida ou remédio, mas também produtos de marca, muitas vezes para filhos e netos – é um negócio tão sujo que um dos bancos envolvidos pelo PT na sua implantação foi à falência, e certamente pagou um alto preço, pois até banqueiro foi preso…

Outro banco tenta não fechar as portas, pois também pagou um alto preço.

Um ponto macabro desta estória é que não foi o sr. Henrique Meirelles que colocou os pobres para financiar bancos a ganhar dinheiro – muito embora o mesmo entenda que todo o “funding” ou todas as reservas e disponibilidades da Previdência devam ser utilizadas como instrumento de política fiscal e de suporte ao mercado.

Na visão pragmática do sr. Meirelles, que administra 100% dos ativos dos fundos de pensão e dos planos de previdência, mais de R$ 1,5 trilhão como instrumentos de sua política fiscal, o consignado é uma simples “commodity” neste nicho de negócios financeiros. 

Tudo que puder contribuir para financiar o déficit público, e de ajuste fiscal, é bem-vindo.

Não lhe interessa saber o drama ou os dramas dos velhinhos que são levados ao feroz endividamento, muitas vezes pelo enredo de suas vidas de penúrias e sacrifícios.

Hoje, se sabe que o volume e o valor de empréstimos consignados no INSS ultrapassam a três folhas de pagamentos mensais de benefícios. Rondam os R$ 120 bilhões.

Antes do PT chegar ao paraíso, em 2003, isto é ao poder, os aposentados e pensionistas não tinham a facilidade capitalista do consignado, eles só entravam no banco para receber seus pagamentos e não deviam um centavo.

Nestes 15 anos, muitos velhinhos morreram por dever ou devendo.

Foram submetidos a muitos constrangimentos nesta “agiotagem” oficializada, por pressões familiares ou necessidades compulsórias. Seguem agora prisioneiros dos altos índices de endividamento e inadimplência.

O que critico, como tese, é que os mais pobres sejam levados a financiar um ajuste fiscal, produzido principalmente pelos desmandos de governos corruptos, indecentes e imorais, comprometendo as gerações passadas e futuras.

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