Nos desvãos da memória
Há 160 anos raiava a imprensa em Petrópolis, justo quando estava em discussão na Assembleia provincial o projeto de lei que criava o município e elevava a freguesia de São Pedro de Alcântara à categoria de cidade.
Pela mão do madeirense Bartolomeu Pereira Sudré veio a lume em março de 1857 o jornal Mercantil que durou até 1892 quando resolveu-se na Gazeta de Petrópolis. Em dezembro do mesmo ano, apareceu O Parahyba fundado por Augusto Emilio Zaluar e que teve como redatores Remigio de Senna Pereira e Quintino Bocaiuva, este produzindo matérias com enorme senso crítico. Foi n’ O Parahyba que começou sua carreira jornalística o descendente de irlandeses Thomas Cameron, que em meados dos anos sessenta dos oitocentos fundou O Pharol, em Paraíba do Sul, depois transferido para Juiz de Fora. De volta a Petrópolis na década de setenta, Cameron foi redatar o Mercantil onde ficaram famosos seus editoriais concisos e precisos.
Lamentavelmente, ninguém sabe onde foram parar as coleções do Mercantil. A Biblioteca Municipal só as possui a partir de 1876. Em compensação, O Parahyba, de vida efêmera, foi salvo graças ao empenho de Felipe Faulhaber que fez encadernar em dois grossos volumes os exemplares do periódico em epígrafe, doando-os à Biblioteca petropolitana.
O Parahyba foi contemporâneo das batalhas eleitorais que se travaram nesta urbe até a instalação da municipalidade em junho de 1859 e da construção da estrada União e Indústria. Abrigou em suas colunas matérias não só de interesse local, mas de alcance regional. Seus colaboradores e correspondentes ocuparam-se de temas referentes à agricultura, à imigração e à colonização, aos incipientes projetos ferroviários, à escravidão, aos ensaios industriais.
Foi também n’ O Parahyba, que Jean Baptista Binot fez publicar artigos memoráveis, já defendendo a natureza petropolitana, numa época em que não se falava em ecologia, já denunciando as agressões ao plano Koeler, máxime naquilo que concernia à construção civil nas áreas nobres do quarteirão Vila Imperial.
Frederico Damke testemunha ocular da formação e do desenvolvimento da colônia germânica de Petrópolis, da qual foi escrivão, tradutor e estatístico, fez das colunas d’ O Parahyba a trincheira para defender sua reputação ante as calúnias levantadas por inescrupulosos indivíduos da ala colonial.
Vale ainda registrar que durante o período monárquico Petrópolis teve um jornal alemão chamado Brasilia de cuja existência não foram encontrados vestígios na Biblioteca Municipal.
É tudo dizer neste ano da graça de 2017 quando a imprensa petropolitana comemora 160 anos de existência.
NOTÍCIAS
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