Nossa folia: do Corso aos blocos de embalo

04/02/2018 08:00

“Ó abre alas

Que eu quero passar

Ó abre alas

Que eu quero passar”

Ao som de enredos e marchinhas  o carnaval petropolitano começou nesse fim de semana. Desde quinta feira, cortejos, ensaios e desfiles de blocos vem acontecendo. Apesar de Petrópolis não ser uma cidade carnavalesca, ainda consegue manter a tradição de blocos de rua e alguns fiéis bailes de carnaval nos clubes. Concebida como o refúgio de verão da Família Imperial, a cidade tem uma bonita trajetória de festejos que esbarra com o carnaval carioca.

Os blocos que hoje persistem, e os novos que vêm ganhando espaço, são a prova de que o petropolitano gosta mesmo de folia. Apesar da forte influência do carnaval de rua do Rio de Janeiro, há registros de que os festejos começaram muito antes aqui na cidade. Por ser uma cidade de veraneio, quando o Imperador vinha a Petrópolis a aristocracia que residia na corte brasileira, no Rio de Janeiro, subia também a serra. 

Em 1868, há registros em fotos dos primeiros carros alegóricos e carroças decoradas. Mas o primeiro desfile de Corso (um encontro de carros antigos com pessoas vestidas a caráter que faziam batalhas de confete, serpentina e água de cheiro) foi em 1880, na Praça da Liberdade. Quem faziam os desfiles na cidade eram os colonos alemães e também cariocas, no entanto, no Rio de Janeiro o Corso só apareceu no carnaval de 1907. Historiadores sugerem que Petrópolis seria o berço do corso.

O Corso foi perdendo força até o surgimento da primeira escola de samba em 1940. Mas em 2004, chegou a ser novamente reproduzido no carnaval da cidade. O produtor cultural Arthur Varella, conduziu por dois carnavais seguidos a bela tradição resgatada do período colonial. Segundo o produtor, a ideia era reviver o desfile de marchinhas, que, de todos os festejos, é o que mais casa com a cenografia de Petrópolis. 

Seguindo as raízes carioca a primeira escola de samba que surgiu aqui foi os Caçadores Sertanejos. Em seguida foram fundadas o Rancho do Amor, o Bloco dos Índios, o Bloco das Onças, a Escola de Samba Estrela do Oriente, 24 de Maio e Independentes de Petrópolis, e mais tarde uma associação carnavalesca, a APEC (Associação Petropolitana de Entidades Carnavalescas), que passaram a se organizar e coordenar os desfiles de carnaval com a participação da Prefeitura.

Já nos anos 70, surgem os blocos de enredo, que assim como as escolas, passavam por disputas acirradas nos carnavais. Os Intocáveis, o Império dos Infernais, Os Magnatas, o Cacique do Morin, Os Milionários, o Não me viu, Bem te vi e o Bloco do Grillo são alguns exemplos deste fenômeno. Os desfiles que aconteciam na Rua do Imperador que contava com uma grande estrutura de arquibancadas, camarotes e serviço de bar.

Um outro fenômeno inspirado na tradição do Rio foi a Banda de Petrópolis. Acompanhando as características da Banda de Ipanema, por volta dos anos 70 e 80, um cortejo se concentrava na Rua Irmãos D’Ângelo. A rua ficava fechada com direito a caminhão de chopp, e marchinhas da época que embalavam os foliões. Tradição que está sendo resgatada neste ano, e volta inclusive com participação da formação original da banda. 

Arthur conta que o grande sucesso das escolas de samba e blocos da época se dava pelo esforço e trabalhos que eram feitos durante todo o ano. Eram feijoadas, rodas de samba, shows com sambistas do Rio de Janeiro, tudo para arrecadar verbas para a realização do desfile. As entidades contavam também com recursos vindos da prefeitura, mas que, sozinha, não bancava todas as despesas.

Já no fim dos anos 80 e começo dos anos 90, muita gente que desfilava e contribuía para o carnaval foi migrando para as escolas do Rio.  A prefeitura já não tinha interesse em investir nos desfiles, porque as próprias entidades já não se mantinham sozinhas, e começaram a depender exclusivamente da verba pública. A qualidade caiu, e a estrutura que era montada na Rua do Imperador acabou minguando.

Por alguns anos o carnaval da cidade era feito com blocos independentes nos bairros e os bailes de carnaval nos clubes. Petropolitano FC, Serrano FC, Esporte Clube Pedro do Rio, Esporte Clube Dom Pedro, Bogari Clube, Esporte Clube Centenário, Palmeiras FC, Clube Harmonia e Clube 85, são alguns deles, no entanto, alguns já nem funcionam mais. Quem ainda mantém costume é o Petropolitano e o Esporte Clube Pedro do Rio com o baile do Preto e Branco e o Baile do Hawaí.

As manifestações culturais que sobrevivem hoje não tem origens na cidade, são importadas e adaptadas ao gosto popular. Mas isso não significa que Petrópolis não tenha o requebrado do carnaval.Nos últimos anos os blocos de rua tem se fortalecido e arrastado muitos foliões. Alguns começam a se preparar com até seis meses de antecedência, com ensaios e eventos para arrecadar fundos para o desfile. A maioria se concentra nos bairros e comunidades, expressões populares que são a verdadeira cara da folia. A programação começou neste fim de semana e segue até a terça feira de carnaval, com eventos que prometem agitar e relembrar os bons tempos de cortejos na cidade.



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