Notória prática

16/10/2017 12:30

No campo da intelectualidade, é comum exaltar o notório saber, principalmente quando vem acompanhado de uma boa retórica e uma boa oratória. A habilidade com as palavras requer arte. Através delas, as ideias se propagam. No entanto, é preciso ter muita atenção para discernir a verdade, porque esta tem sido omitida pelos sofistas contemporâneos. São ases no manejo linguístico, usam vários recursos para persuadir, mas não têm nenhum compromisso com a verdade absoluta. São adeptos da relativização para atender às conveniências. 

A sofística se aprimorou no relativismo do conhecimento. De forma consciente ou não, encontramos hoje muitos adeptos dessa forma de pensar, principalmente no meio político.

O sofista grego Protágoras (480 – 411 a.C.), precursor do relativismo existencial, afirmara que "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." 

Mas fica a pergunta: –  qual o homem que deve servir de referência?

– Por isso, fico com o pensamento de Sócrates (469-399 a.C.), que defendia a verdade de valor universal, absoluta, que não é mutável em função das circunstâncias.

 Diante dessa visão socrática, não há espaço para o conceito de “pós-verdade”, que ganhou espaço no século XXI. 

A manipulação por meio da linguagem, como se pode ver, existe há milênios. Só que hoje o poder midiático se aprimora no convencimento e na persuasão para consolidar conceitos falaciosos. Em se tratando de política, essa prática tem até profissionais especializados em “vender imagens”, são os chamados “marqueteiros”. Exploram, de maneira fabulosa, a aparência física. Lamentavelmente há quem vote simplesmente levando em consideração a questão estética, tanto no âmbito executivo como legislativo. Quando isso ocorre, as chances das desilusões são maiores.

É válido ressaltar que a educação tem sido vítima das falácias que permeiam o segmento político. Usam frases de efeito para exaltar os educadores, porém estes continuam desrespeitados, desvalorizados e submetidos a remunerações incompatíveis com a importância do trabalho que realizam no seio da sociedade. 

No período de campanha política, a educação é citada constantemente. No entanto, o discurso passa longe da realidade.  Tanto no âmbito municipal, quanto estadual e federal, a educação vive um momento delicado, porque é vítima também dessa manipulação retórica. Há anos que se ouve falar de “mudanças” e de investimento para beneficiar a área educacional, porém não é isso que se constata no país.

Sem menosprezar o “notório saber”, hoje acho importante exaltar “a notória prática”, porque, através dela, é possível evidenciar as contradições dos sofistas, que usam belos discursos, mas têm as mãos vazias. Não realizam nada daquilo que prometem. Essa demagogia vem carregada de cinismo, negam tudo que fazem diante de evidentes provas.

Nesta semana em que se comemora o Dia do Professor, quero evidenciar a dedicação da educadora Helley Abreu Batista, que sacrificou a própria vida para salvar os seus alunos no incêndio criminoso ocorrido na creche Gente Inocente, na cidade de Janaúba, no Norte de Minas. 

Essa professora, com formação em nível superior, recebia menos do que dois salários mínimos. Porém o amor ao trabalho que realizava estava além da sua remuneração. Perdeu a vida, mas salvou vários alunos no referido incêndio. A atitude dela foi uma lição de vida. Para mim, esse é o discurso da coerência que remete para a retidão do caráter que serve de exemplo profissional, por revelar o amor ao que se faz.

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