Nova comandante do 26º BPM: ‘Sempre quis ser militar, nunca desejei ser outra coisa’

28/09/2020 10:20

Foi de salto alto vermelho, cabelos soltos e maquiagem que a primeira mulher a comandar o 26º Batalhão da Polícia Militar (PM) de Petrópolis, a tenente-coronel Simone de Almeida Silva, chegou para a entrevista concedida à Tribuna de Petrópolis, na última sexta-feira (25). A roupa de “civil” foi logo trocada pela farda, uniforme que a encantou desde a infância. Hoje aos 42 anos, a tenente-coronel faz parte de um grupo seleto de mulheres que comandam os batalhões no Rio de Janeiro. Com ela, são apenas três – tenente-coronel Andréia Ferreira da Silva Campos, do 28º BPM (Volta Redonda); e a tenente-coronel Luciana Rodrigues de Oliveira, do 37º BPM (Resende) – que ocupam esses postos de comando na alta cúpula da segurança pública do Estado.

“Sempre quis ser militar, nunca desejei ser outra coisa”, disse a comandante. Moradora da cidade do Rio de Janeiro, a tenente-coronel começou na profissão aos 19 anos, quando passou no concurso para a Polícia Militar, em 1998. Foram dois anos na academia até ingressar na PM, em 2001, justamente no 26º BPM de Petrópolis, como aspirante. 

“Aqui foi o primeiro batalhão que trabalhei e tenho um carinho especial. Sempre pensei que quando retornasse, seria como comandante”, comentou a tenente-coronel. Quando ela entrou no 26º BPM, só havia mais uma mulher na corporação; hoje, são 14, entre oficiais e soldados. “Não tinha alojamento pra mim. Tive que desalojar um oficial. A realidade hoje é diferente de quando eu entrei na PM. Somos vistas como iguais, não existe isso de sexo frágil e que não podemos fazer o mesmo serviço e participar das operações. Quando entrei na PM, tive que brigar muito para me colocarem nas operações”, lembrou. 

No batalhão de Petrópolis foram quase 10 anos, onde ela formou muitos dos militares que estão lotados atualmente na unidade. “É uma honra voltar para cá e comandar os militares que eu ajudei a formar”, disse. Depois do 26º BPM, a tenente-coronel foi diretora de Administração da Subsecretaria Adjunta de Operações Aéreas do Rio de Janeiro (entre 2010 e 2013); secretária do Estado Maior Geral (entre 2013 e 2016); chefe de Escritório de Programas de Prevenção do Estado Maior (2017); chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Vitimização do Rio de Janeiro (2019); e subcomandante do 4º BPM (São Cristóvão) e do 2º BPM (Botafogo).

O convite para assumir o 26º BPM aconteceu depois de algumas trocas nos comandos no Estado do Rio de Janeiro, ocorridas no início do mês. Ela contou que a primeira coisa que falou depois de ser consultada se queria assumir o comando da unidade foi: “já estou com a mochila pronta”. “Missão dada é missão cumprida e venho para cá com o coração aberto”, ressaltou a comandante.

Casada e mãe de um menino de 11 anos, a comandante do 26º BPM confessa que não é fácil conciliar a profissão com a vida pessoal, mas que conta com a ajuda e a compreensão da família. “Meu filho entende muito mais que meu marido”, brincou ela. “Ele sabe que nem sempre vou estar por perto, mas essa é a minha profissão, foi o que escolhi. Ele entende. Claro que não tem como, às vezes, não me sentir culpada em perder coisas importantes do crescimento dele, mas aprendi que o fundamental é a qualidade do tempo e não a quantidade”, disse. 

A comandante não sabe quanto tempo ficará em Petrópolis, mas ressalta que tentará implantar ações para garantir o patrulhamento da cidade e os baixos índices de criminalidade. “Os policiais aqui têm pertencimento do batalhão e da cidade, isso é que faz a diferença e me faz gostar tanto de trabalhar aqui”, concluiu a tenente-coronel. 

A posse da tenente-coronel Simone no 26º BPM registra mais uma etapa da história da presença da mulher na Polícia Militar do Rio de Janeiro. As mulheres começaram a ingressar na corporação em 1982, com a primeira turma de praças e, um ano depois, com a primeira turma de oficiais. Hoje, dos quase 45 mil integrantes, as mulheres representam 12% do total da tropa. Além de comandarem três das 39 unidades de área no estado, as oficiais mulheres ocupam postos-chaves nos setores administrativos e nas áreas de ensino e saúde.

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