Nova espécie de bicho-pau, ‘Cladomorphus petropolisensis’, é encontrada em Petrópolis

Pesquisa foi idealizada por Jane Costa, primeira autora do artigo Cladomorphus petropolisensis, a New Species of Stick Insect from the Atlantic Forest, Rio de Janeiro, Brazil  e chefe substituta do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC, e recebeu a colaboração de outras duas cientistas 

17/11/2022 16:56
Por Aghata Paredes

Intitulada de Cladomorphus petropolisensis, a nova espécie de bicho-pau é uma homenagem à cidade de Petrópolis, onde foi encontrada. 

“Faz parte das nossas atividades entomológicas no Laboratório de  Biodiversidade Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a realização de trabalhos de campo, isto é, observar e coletar insetos no meio em que eles vivem. Nesse contexto, coletando exemplares em trilhas de áreas verdes de Petrópolis, nós nos deparamos com este inseto, que tem aspecto semelhante a uma outra espécie, que já era descrita na região – o Cladomorphus Phyllinus. Comparamos ambos e vimos que as diferenças entre eles poderiam representar uma nova espécie. Fizemos os levantamentos, começamos a fazer as análises das diferenças morfológicas, como a textura, número de espinhos nas pernas posteriores, aspecto geral dos ovos, e observamos que elas eram compatíveis com uma espécie nova”, conta Jane. 

Para confirmação da nova espécie, as pesquisadoras realizaram a sequência de DNA. O que confirmou que não se tratava apenas de uma variabilidade populacional. Foi descoberta, então, uma nova espécie de bicho-pau na Mata Atlântica de Petrópolis – o Cladomorphus petropolisensis.

Fotos: Divulgação – Cladomorphus Petropolisensis.

Questionada sobre as particularidades do bicho-pau, Jane conta que eles são insetos muito característicos. Alguns parecem gravetos; outros, folhas; outros parecem líquens. “Eles têm uma camuflagem muito interessante. São espécies raras e diferentes de outros grupos numerosos de insetos, como coleópteros, borboletas, formigas e vespas, que têm uma diversidade e um número de exemplares incrível na natureza. Já os bichos-pau não se reproduzem muito e, por conta da camuflagem, são difíceis de serem observados e encontrados. Por isso, são pouco estudados.”, explica.

Outro aspecto interessante a respeito dos bichos-pau é o dimorfismo sexual. Os machos são muito diferentes das fêmeas. “Se você não encontrá-los copulando na natureza é muito difícil correlacionar o macho à fêmea daquela mesma espécie.”, revela Jane.

No caso desta nova espécie, a pesquisadora explica que o Cladomorphus petropolisensis está sendo descrito com base no exemplar fêmea e nos ovos, porque ainda não foi possível conhecer o macho. “Vamos continuar explorando a área para, através da Biologia Molecular, tentarmos descrever o macho desta espécie de bicho-pau.”, conta. 

Você sabia?

Atualmente, o grupo das borboletas tem cerca de 400 mil espécies descritas. A título de comparação, quando se fala no grupo dos bichos-pau existem cerca de 3.400 espécies descritas no mundo. Porém, apenas 230 espécies são conhecidas no Brasil.

A chefe subsituta do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC conta ainda que há muito poucos cientistas voltados para a biodiversidade e identificação das espécies das áreas naturais no país. “Nossa biodiversidade é a mais rica do mundo. Precisamos conhecê-la, protegê-la e entendê-la.”, diz. 

Pergunto a Jane como é fazer parte desta descoberta e o que ela enxerga de mais bonito nisso. “Como cientista petropolitana, apaixonada pelas nossas  montanhas e matas, foi uma satisfação muito grande ter tido a oportunidade de descrever essa espécie aqui da Mata Atlântica de Petrópolis.” 

Inofensivos

Por serem desconhecidos pela população, é comum que algumas pessoas sintam medo dos bichos-pau. No entanto, a cientista esclarece que são insetos inofensivos. “Eles não têm veneno, são totalmente inofensivos. Só se alimentam de folhinhas de goiaba, de pitanga e muitas outras. São insetos muito tranquilos, que são usados, inclusive, para divulgação científica e na divulgação da Entomologia com crianças. Elas adoram.”

Sobre isso, a cientista escreveu um livro “Eu, o bicho-pau”, idealizado para o público infanto-juvenil, que reúne uma série de informações para desmistificar questões como essa, mostrando que o inseto é inofensivo, além de orientar o público sobre o que fazer ao encontrar o inseto. A obra pode ser acessada gratuitamente no site do Instituto Oswaldo Cruz. 

Biodiversidade no município de Petrópolis

Jane ressalta a importância de falar sobre essas descobertas, já que muitas vezes as pessoas não se dão conta da biodiversidade existente em Petrópolis.  “Temos o privilégio de residir numa cidade com muita riqueza e biodiversidade. Poder revelar um pouco disso de forma tão inédita, a partir da Mata Atlântica de Petrópolis, foi um achado que me trouxe muita satisfação.”, completa.

Você sabia?

A última espécie descrita do gênero Cladomorphus aconteceu em 1835. A descoberta foi feita por um naturalista chamado George Robert Gray. Outra curiosidade é que este gênero agrupa os insetos mais longos da Mata Atlântica. O exemplar encontrado aqui em Petrópolis, por exemplo, tem 21 cm. 

Homenagem a Dom Pedro II, um grande naturalista 

Com a previsão de descrever novas espécies neste grupo em Petrópolis, Jane conta que o grupo pretende homenagear a Família Imperial. “Vamos começar homenageando nosso Imperador Dom Pedro II, que fez muito pela biodiversidade da nossa fauna e flora, propiciando estudos relevantes. Por isso, as próximas espécies descritas vão homenagear personalidades da Família Imperial, a começar por ele.”, conclui. 

Participaram da descoberta Jacenir Mallet, do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Diptera e Hemiptera do IOC, e Daniela Maeda Takiya, do Laboratório de Entomologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Os exemplares estudados foram depositados na Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz. A coleção de insetos é a maior da América Latina. Nela, são abrigadas inúmeras espécies descritas no Brasil e no exterior.  

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